O educador não deve se abaixar até a criança, mas elevar-se a ela e ao seu modo de ver e compreender as coisas.
Quando se trata da natureza infantil, aprendi que nela a fantasia é infinita: o que era lata vira carro, ser imaginário é melhor amigo.
Estávamos na sala de estar. Eu e os Quatro Pequenos. Todos em cima de mim, literalmente. Vou tentar descrever.
As Duas Menores me imobilizaram abraçando minhas pernas. Caí sentado no sofá. O Garotinho pegou meu braço e puxou contra seu corpo deitado. A Mais Velha, de oito anos, não perdeu tempo. Subiu logo nas almofadas, e começou uma difícil e divertida escalada na montanha de carne que ela entendeu ser as minhas costas. O cume era o meu cangote¹. Foi então que percebi que estava em apuros. Ora! Imagine, eram quatro, QUATRO grandes e persistentes guerreiros mirins superpoderosos contra um singelo adulto desarmado. Eu precisava reagir rápido, pois meu fim parecia bem próximo. Para não ser derrotado, incorporei um monstro forte e mal encarado que meu pai criara durante minha infância. Ele possuía enormes mãos fazedoras de cócegas. Comecei a revidar. A cada golpe que dava os risos e gargalhadas espirravam para todos os lados. Um a um, eles sucumbiram. Foi um verdadeiro e hilário massacre. A Mais Velha caída e sem forças, limpou os risos que ainda escorriam de sua boca e me falou: “Tio, você parece um brinquedo. A gente pula, monta, sobe, brinca em cima de você igualzinho a um parquinho. Faz de novo! Vai faz!”.
Seria mais um fim de tarde igual a qualquer outro. Comum se não fosse o comentário dessa criança. Pode um adulto ser comparado a um brinquedo? Eu, um brinquedo? Como pode isso?
A sabedoria infinita daquela garotinha me fez refletir sobre quem quero ser: um educador que entende que pode fazer diferença para alguém em algum lugar, em alguma ocasião. Basta apenas conseguir enxergar esses momentos.
Agora sei que crianças são capazes de trocar qualquer brinquedo por alguns momentos de diversão com um Adulto Brinquedo. É como se as borboletas ignorassem o perfume e a beleza das flores para pousar nos ombros cativados de um homem...
E com os beijos, abraços e brincadeiras dos meus pequenos vou vivendo. É assim que me renovo.
Nota¹: Parte posterior do pescoço.