Assim como um bom vinho, o administrador do Bar do Pedagogo precisou curtir por um longo período, mas, ao invés de tonéis de carvalho, foram 2 anos e 2 meses numa adega de maturação intelectual e acadêmica.
Grande abraço e vamos à reinauguração!!! Garçom, por favor...
Desculpa esse mundo, Eduardo. Desculpa esse mundo.
Do escritor Pablo Villaça, no Diário do Centro do MundoEduardo tinha dez anos de idade.
Eduardo tinha pais, irmãos e amigos.
Eduardo gostava de correr, de brincar, de ver televisão, de rir de desenho animado e de comer bobagem antes do almoço.
Eduardo queria ser bombeiro quando crescesse.
Mas Eduardo não vai crescer. Ele começou o dia criança e terminou cadáver. Tinha sonhos e agora é carne machucada e sem vida.
Seus verbos agora são no passado.
Sonhou. Riu. Brincou. Viveu.
Eduardo foi executado por um policial militar no Morro do Alemão. Sua morte não foi o principal destaque dos portais e jornais. Quando foi noticiada, ele se transformou apenas em um “menino do Morro do Alemão”, em uma estatística da violência.
Eduardo nasceu sem chances e sem chances morreu.
Talvez Eduardo tivesse medo do escuro. De monstros. De trovão. Talvez.
Por outro lado, provavelmente tinha da polícia. E estava certo em ter.
Se eu fosse pobre e morasse na favela, também teria – porque saberia que, para boa parte da sociedade e dos agentes da lei, eu não seria apenas uma criança; seria um criminoso à espera de meu primeiro crime.
Eduardo teve sua cabeça de criança destruída pela bala de um policial militar.
E nos portais que noticiaram sua morte sem destaque, comentaristas agiram com escárnio e disseram que, se pudessem, ajudariam a polícia militar a matar 50 por dia.
E gritam pela redução da maioridade penal em um país que já condena à morte crianças de dez anos.
Você está morto, Eduardo, e eu preciso ir ali abraçar meus filhos bem apertado enquanto penso na dor da sua mãe cujos braços vão para sempre sentir a falta do calor de seu corpinho de criança.
Desculpa esse mundo, Eduardo. Desculpa esse mundo.