Desde que o mundo é mundo lembramos, relatamos e vivenciamos mudanças em nossa sociedade. Algumas dessas mudanças ocorrem seguindo a própria ordem da natureza, outras, no entanto, são realizadas pelo homem, e de certo modo acabam também sendo naturais, ou melhor, acabam naturalizando-se.
Parece cada vez mais natural viver em sua sociedade feito um “bicho” cercado pelas desigualdades sociais, pela competitividade, pelo individualismo, e aceitar a concentração de capital e de poder nas mãos de uma minoria. Parece ser cada vez mais natural a condição de ser pobre, de ser desempregado, de não possuir moradia, de não ter como se locomover, não ter o que comer, de não possuir estudo, ou mesmo de estudar em escolas sucateadas e “assistencialistas”. É cada vez mais natural viver a lógica capitalista.
Desse modo, não seria surpresa constatar que a cada dia mais e mais pessoas estão tendo acesso às escolas, conforme previsto em lei, mas ainda assim não estão tendo o acesso ao saber. Saber esse que vai muito mais além da matrícula escolar, da escolarização, da codificação e decodificação, muito mais além da simples e mecânica memorização, de fatos, dados, acontecimentos datados. Um saber real, que não é esse saber mentiroso e mascarado ofertado no jogo do dominador.
O saber real ao qual nos referimos nesse texto, exige cada vez mais que os indivíduos possuam conhecimentos e aptidões, que lhe permitam interpretar e fazer análises sob outra ótica, que foge a tradicional ótica positivista. Trata-se de um saber que possibilita ao indivíduo o desejo de investigar e descobrir tudo que está por traz de tudo. Tudo aquilo que é dado como certo, como inquestionável. Infelizmente esse saber real ainda não faz parte, ou se faz numa pequena proporção, do cotidiano das nossas salas de aula, da escolarização e da educação de nossas crianças e jovens.
Historicamente falando, na educação do nosso país muito já se lutou e ainda se luta por esse saber, pela implementação de um currículo que atenda não à economia vigente, nem à classe dominante, mas um currículo libertador, emancipador. Luta-se ainda nos dias de hoje para que nossas crianças tenham uma educação de qualidade e que não vendam seus pensamentos, sua consciência por um prato de comida ou uma bolsa auxílio qualquer. Nessas lutas por mudanças benéficas para a educação, para um currículo de qualidade livre de uma ideologia opressora, percebe-se o poder que a escola e, mais especificamente, as disciplinas possuem ao carregarem consigo conteúdos, concepções, métodos e professores que podem conduzir os estudantes para um caminho dialógico, reflexivo, critico e consciente, ou para uma vida de estudos inteiramente alienada e oprimida.
Seguindo essa mesma ótica encontram-se os livros didáticos. Seja na escolha com conteúdos que serão trabalhados em determinadas séries, seja em textos curtos, introdutórios ou mesmo na forma como se inserem suas atividades os livros também atuam como um meio de propagar uma ideologia. Por meio de informações equivocadas ou mesmo pela omissão de determinadas informações os livros também podem ser instrumentos de alienação.
Observa-se assim como a educação, ou melhor, a escola e a prática do professor podem conduzir a vida de um individuo, bem como a importância exercida na vida de todos que passam por ela, podendo atuar como um aparelho ideológico do Estado e nutrir a manutenção desse sistema ou atuar como um meio emancipador e dialógico, formando de fato cidadãos críticos e participativos. Só é extremamente lamentável que nos dias de hoje ainda existam escolas, livros e professores que educam para a alienação. Que não buscam instigar em seus alunos um pensamento reflexivo frente ao mundo.
Pensemos nisso e analisemos nossas práticas!
Você educa para a manutenção ou para a emancipação?