As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade... Por isso Nunca se deve tirar o brinquedo de uma criança, tenha ela oito ou oitenta anos. Mario Quintana


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A lógica dominante dominando a educação

         Desde que o mundo é mundo lembramos, relatamos e vivenciamos mudanças em nossa sociedade. Algumas dessas mudanças ocorrem seguindo a própria ordem da natureza, outras, no entanto, são realizadas pelo homem, e de certo modo acabam também sendo naturais, ou melhor, acabam naturalizando-se.
Parece cada vez mais natural viver em sua sociedade feito um “bicho” cercado pelas desigualdades sociais, pela competitividade, pelo individualismo, e aceitar a concentração de capital e de poder nas mãos de uma minoria. Parece ser cada vez mais natural a condição de ser pobre, de ser desempregado, de não possuir moradia, de não ter como se locomover, não ter o que comer, de não possuir estudo, ou mesmo de estudar em escolas sucateadas e “assistencialistas”. É cada vez mais natural viver a lógica capitalista.
Desse modo, não seria surpresa constatar que a cada dia mais e mais pessoas estão tendo acesso às escolas, conforme previsto em lei, mas ainda assim não estão tendo o acesso ao saber. Saber esse que vai muito mais além da matrícula escolar, da escolarização, da codificação e decodificação, muito mais além da simples e mecânica memorização, de fatos, dados, acontecimentos datados. Um saber real, que não é esse saber mentiroso e mascarado ofertado no jogo do dominador.
O saber real ao qual nos referimos nesse texto, exige cada vez mais que os indivíduos possuam conhecimentos e aptidões, que lhe permitam interpretar e fazer análises sob outra ótica, que foge a tradicional ótica positivista. Trata-se de um saber que possibilita ao indivíduo o desejo de investigar e descobrir tudo que está por traz de tudo. Tudo aquilo que é dado como certo, como inquestionável. Infelizmente esse saber real ainda não faz parte, ou se faz numa pequena proporção, do cotidiano das nossas salas de aula, da escolarização e da educação de nossas crianças e jovens.
Historicamente falando, na educação do nosso país muito já se lutou e ainda se luta por esse saber, pela implementação de um currículo que atenda não à economia vigente, nem à classe dominante, mas um currículo libertador, emancipador. Luta-se ainda nos dias de hoje para que nossas crianças tenham uma educação de qualidade e que não vendam seus pensamentos, sua consciência por um prato de comida ou uma bolsa auxílio qualquer. Nessas lutas por mudanças benéficas para a educação, para um currículo de qualidade livre de uma ideologia opressora, percebe-se o poder que a escola e, mais especificamente, as disciplinas possuem ao carregarem consigo conteúdos, concepções, métodos e professores que podem conduzir os estudantes para um caminho dialógico, reflexivo, critico e consciente, ou para uma vida de estudos inteiramente alienada e oprimida.
Seguindo essa mesma ótica encontram-se os livros didáticos. Seja na escolha com conteúdos que serão trabalhados em determinadas séries, seja em textos curtos, introdutórios ou mesmo na forma como se inserem suas atividades os livros também atuam como um meio de propagar uma ideologia. Por meio de informações equivocadas ou mesmo pela omissão de determinadas informações os livros também podem ser instrumentos de alienação.
Observa-se assim como a educação, ou melhor, a escola e a prática do professor podem conduzir a vida de um individuo, bem como a importância exercida na vida de todos que passam por ela, podendo atuar como um aparelho ideológico do Estado e nutrir a manutenção desse sistema ou atuar como um meio emancipador e dialógico, formando de fato cidadãos críticos e participativos. Só é extremamente lamentável que nos dias de hoje ainda existam escolas, livros e professores que educam para a alienação. Que não buscam instigar em seus alunos um pensamento reflexivo frente ao mundo.
Pensemos nisso e analisemos nossas práticas!
Você educa para a manutenção ou para a emancipação?

sábado, 20 de agosto de 2011

O que é educação?

            Geralmente, quando falamos ou ouvimos falar sobre educação temos a tendência de enquadrá-la em um período, normalmente aos anos que uma determinada pessoa dedicou aos estudos. Pensando assim, fica claro que pretendemos sempre relacionar educação com estudos. Contudo, seria esta uma interpretação apropriada? Não estaria ocorrendo nesse pensamento uma irresponsável tentativa de transformar todo um processo natural e gradual em alguns anos dentro da sala de aula? E quem não teve, pelos mais diversos motivos, oportunidade de estudar, não foi educado? E as primeiras tribos, as primeiras civilizações indígenas, não tiveram sua educação? E quando o pai índio chamava seu filho para observá-lo a fazer os arcos e flechas para caça ou, por outro lado, quando a mãe índia ensinava sua filha a conhecer as plantas boas para produzir cestos e a argila que serve para fazer potes, não era uma forma de educar? Digamos que os estudos acadêmicos fazem sim parte do processo de educação do ser humano, mas, no entanto, é equivocado alegar e restringir educação ao período escolar.
             Muito mais do que um período, que uma etapa, que uma fase, que uma tarefa, a educação reflete os ideais sociais do grupo que a cria. Ela reproduz entre todos os que ensinam e aprendem o saber das palavras da tribo, as normas de conduta da comunidade, as regras do trabalho, os valores nativos, os segredos da arte, da guerra, da religião ou da tecnologia, perpetuando-se e reinventando-se de geração em geração. Foi dessa forma que Esparta desenvolveu uma educação orientada para a formação militar; que Atenas iniciou seu ideal democrático; que o patriarca romano inseriu seu filho na vida civil. Foi usando a educação como um recurso a mais de sua dominância que a igreja impregnou a doutrina cristã na gênese do submetido brasileiro.
            Podemos observar a educação em diversas situações. Por exemplo, quando um pai demonstra a intenção de modelar determinado tipo de comportamento em seu filho, ensinando-o a respeitar as pessoas; ou quando um pai teoriza sobre o respeito ao próximo e estaciona o carro em vagas para pessoas com deficiência, ensinando aos filhos, acidentalmente, valores negativos, como o individualismo, a exploração; a notamos quando a publicidade, diária, covarde e emotivamente, aproveita a ausência da família para alimentar desejos e anseios consumistas em nossas crianças, nutrindo-as diariamente com verdadeiros mingaus alienantes. Ela é primeiramente realizada no privilegiado espaço familiar, se estende no convívio com os amigos, nas atividades de trabalho e lazer, nos veículos de informação e entretenimento, como rádio, TV, jornais, internet. Em boa parte desse processo nem percebemos que estamos educando, ou que estamos sendo educados.
              Talvez a interpretação aqui apresentada esteja distante daquilo que escutamos no dia-a-dia, entretanto, é necessário deixarmos de lado a intenção de querer simplificar a concepção de educação na tentativa de torná-la mais inteligível à nossa compreensão. É agindo justamente dessa maneira que acabamos contribuindo para que a mesma vá perdendo seu brilho e seu real valor. Não podemos deixar que um fenômeno que engloba todos os processos de ensinar e aprender, de ajuste e adaptação, se encaixe dentro de uma concepção simplista que formulamos.
             Por fim, educação é a construção de um saber que ultrapassa os muros da escola e se torna uma construção permanente na existência do ser humano. Aliás, notemos que, de fato, ninguém foge ou se abriga da educação. De uma forma ou de outra, num lugar ou em outro, na escola ou não, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela.

Dedicatória Póstuma



            O Bar do Pedagogo dedica este blog àquela criança invisível, que aparentava pouco mais de 5 anos. Certa manhã ela aproveitou os valiosos 30 segundos que a luz vermelha do semáforo lhe deu para bater com suas mãos magras, sujas e sofridas na janela daquele carro e mendigar um pedaço de esperança. Mas seu empenho foi em vão. O condutor a ignorou. Ela tinha fome e frio. Ela precisava de consolo e amparo. Viva, porém morta.  Que descanse em paz nas nossas lembranças.

            Você já viu alguma criança invisível? Também consegue enxergá-las?

Em que devo acreditar?


São milhares de seres humanos

  Que morrem sem ser culpados!

  São muitas partículas de dor

  Corações despedaçados

  Que Deus é esse

  Por nós tão idolatrado

  Que a Igreja nos fez crer

  Qu’ele estava em todo o lado?!...

  Em todo o lado

  está a guerra, a morte

  E a fé que aínda nos resta

  A servir como suporte!...

Eu sei!

   Vais culpar a crueldade

Do Homem que tu criaste!

  Criaste-o à tua imagem

Não foi isso que ensinaste!...

Em que devo acreditar?!

  Nesse Deus que não quer ver

Ou no sangue derramado

  E tanto povo a sofrer?!...



Texto postado originalmente no Jardim das Urtigas.

62 obras sobre os principais pensadores da educação para download

            O Mi­nis­té­rio da Edu­ca­ção, em par­ce­ria com a Unes­co e a Fun­da­ção Jo­a­quim Na­bu­co, dis­po­ni­bi­li­zou pa­ra downlo­ad a Co­le­ção Edu­ca­do­res, uma sé­rie com 62 li­vros so­bre per­so­na­li­da­des da edu­ca­ção. A co­le­ção traz en­sai­os bi­o­grá­fi­cos so­bre 30 pen­sa­do­res bra­si­lei­ros, 30 es­tran­gei­ros, e dois ma­ni­fes­tos: “Pi­o­nei­ros da Edu­ca­ção No­va”, de 1932, e “Edu­ca­do­res”, de 1959. A es­co­lha dos no­mes pa­ra com­por a co­le­ção foi fei­ta por re­pre­sen­tan­tes de ins­ti­tu­i­ções edu­ca­cio­nais, uni­ver­si­da­des e Unes­co. O cri­té­rio pa­ra a es­co­lha foi re­co­nhe­ci­men­to his­tó­ri­co e o al­can­ce de su­as re­fle­xões e con­tri­bui­ções pa­ra o avan­ço da edu­ca­ção no mun­do. No Bra­sil, o tra­ba­lho de pes­qui­sa foi fei­to por pro­fis­si­o­nais do Ins­ti­tu­to Pau­lo Frei­re. No pla­no in­ter­na­ci­o­nal, foi tra­du­zi­da a co­le­ção Pen­seurs de l’édu­ca­ti­on, or­ga­ni­za­da pe­lo In­ter­na­ti­o­nal Bu­re­au of Edu­ca­ti­on (IBE) da Unes­co, em Ge­ne­bra, que reú­ne al­guns dos mai­o­res pen­sa­do­res da edu­ca­ção de to­dos os tem­pos e cul­tu­ras.
            In­te­gram a co­le­ção os se­guin­tes edu­ca­do­res/pen­sa­do­res: Al­ceu Amo­ro­so Li­ma, Al­fred Bi­net, Al­mei­da Jú­ni­or, An­drés Bel­lo, An­ton Maka­renko, An­to­nio Gram­sci, Aní­sio Tei­xei­ra, Apa­re­ci­da Joly Gou­veia, Ar­man­da Ál­va­ro Al­ber­to, Aze­re­do Cou­ti­nho, Ber­tha Lutz, Bog­dan Su­cho­dolski, Carl Ro­gers, Ce­cí­lia Mei­re­les, Cel­so Su­cow da Fon­se­ca, Cé­les­tin Frei­net, Darcy Ri­bei­ro, Do­min­go Sar­mi­en­to, Dur­me­val Tri­guei­ro, Ed­gard Ro­quet­te-Pin­to, Fer­nan­do de Aze­ve­do, Flo­res­tan Fer­nan­des, Fre­de­ric Skin­ner, Fri­e­drich Frö­bel, Fri­e­drich He­gel, Fro­ta Pes­soa, Ge­org Kers­chen­stei­ner, Gil­ber­to Freyre, Gus­ta­vo Ca­pa­ne­ma, Hei­tor Vil­la-Lo­bos, He­le­na An­ti­poff, Hen­ri Wal­lon, Hum­ber­to Mau­ro, Ivan Il­lich, Jan Amos Co­mê­nio, Je­an Pi­a­get, Je­an-Jac­ques Rous­se­au, Je­an-Ovi­de De­croly, Jo­hann Her­bart, Jo­hann Pes­ta­loz­zi, John Dewey, Jo­sé Mar­tí, Jo­sé Má­rio Pi­res Aza­nha, Jo­sé Pe­dro Va­re­la, Jú­lio de Mes­qui­ta Fi­lho, Liev Se­mio­no­vich Vygotsky, Lou­ren­ço Fi­lho, Ma­no­el Bom­fim, Ma­nu­el da Nó­bre­ga, Ma­ria Mon­tes­so­ri, Ní­sia Flo­res­ta, Or­te­ga y Gas­set, Pas­cho­al Lem­me, Pau­lo Frei­re, Ro­ger Cou­si­net, Rui Bar­bo­sa, Sam­paio Dó­ria, Sig­mund Freud,Val­nir Cha­gas, Édou­ard Cla­pa­rè­de e Émi­le Durkheim.