Geralmente, quando falamos ou ouvimos falar sobre educação temos a tendência de enquadrá-la em um período, normalmente aos anos que uma determinada pessoa dedicou aos estudos. Pensando assim, fica claro que pretendemos sempre relacionar educação com estudos. Contudo, seria esta uma interpretação apropriada? Não estaria ocorrendo nesse pensamento uma irresponsável tentativa de transformar todo um processo natural e gradual em alguns anos dentro da sala de aula? E quem não teve, pelos mais diversos motivos, oportunidade de estudar, não foi educado? E as primeiras tribos, as primeiras civilizações indígenas, não tiveram sua educação? E quando o pai índio chamava seu filho para observá-lo a fazer os arcos e flechas para caça ou, por outro lado, quando a mãe índia ensinava sua filha a conhecer as plantas boas para produzir cestos e a argila que serve para fazer potes, não era uma forma de educar? Digamos que os estudos acadêmicos fazem sim parte do processo de educação do ser humano, mas, no entanto, é equivocado alegar e restringir educação ao período escolar.
Muito mais do que um período, que uma etapa, que uma fase, que uma tarefa, a educação reflete os ideais sociais do grupo que a cria. Ela reproduz entre todos os que ensinam e aprendem o saber das palavras da tribo, as normas de conduta da comunidade, as regras do trabalho, os valores nativos, os segredos da arte, da guerra, da religião ou da tecnologia, perpetuando-se e reinventando-se de geração em geração. Foi dessa forma que Esparta desenvolveu uma educação orientada para a formação militar; que Atenas iniciou seu ideal democrático; que o patriarca romano inseriu seu filho na vida civil. Foi usando a educação como um recurso a mais de sua dominância que a igreja impregnou a doutrina cristã na gênese do submetido brasileiro.
Podemos observar a educação em diversas situações. Por exemplo, quando um pai demonstra a intenção de modelar determinado tipo de comportamento em seu filho, ensinando-o a respeitar as pessoas; ou quando um pai teoriza sobre o respeito ao próximo e estaciona o carro em vagas para pessoas com deficiência, ensinando aos filhos, acidentalmente, valores negativos, como o individualismo, a exploração; a notamos quando a publicidade, diária, covarde e emotivamente, aproveita a ausência da família para alimentar desejos e anseios consumistas em nossas crianças, nutrindo-as diariamente com verdadeiros mingaus alienantes. Ela é primeiramente realizada no privilegiado espaço familiar, se estende no convívio com os amigos, nas atividades de trabalho e lazer, nos veículos de informação e entretenimento, como rádio, TV, jornais, internet. Em boa parte desse processo nem percebemos que estamos educando, ou que estamos sendo educados.
Talvez a interpretação aqui apresentada esteja distante daquilo que escutamos no dia-a-dia, entretanto, é necessário deixarmos de lado a intenção de querer simplificar a concepção de educação na tentativa de torná-la mais inteligível à nossa compreensão. É agindo justamente dessa maneira que acabamos contribuindo para que a mesma vá perdendo seu brilho e seu real valor. Não podemos deixar que um fenômeno que engloba todos os processos de ensinar e aprender, de ajuste e adaptação, se encaixe dentro de uma concepção simplista que formulamos.
Por fim, educação é a construção de um saber que ultrapassa os muros da escola e se torna uma construção permanente na existência do ser humano. Aliás, notemos que, de fato, ninguém foge ou se abriga da educação. De uma forma ou de outra, num lugar ou em outro, na escola ou não, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela.
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