As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade... Por isso Nunca se deve tirar o brinquedo de uma criança, tenha ela oito ou oitenta anos. Mario Quintana


sábado, 10 de setembro de 2011

Livro questiona a palmada como forma de educação

         A revista CRESCER entrevistou a psicóloga Luciana Maria Caetano, autora do recém-lançado É possível educar sem palmadas?, que traz bons argumentos contra a violência dentro de casa.

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          Se você apanhou dos seus pais e, hoje, se considera uma pessoa educada, provavelmente deve achar que isso contribuiu para o seu sucesso, correto? Esse é apenas uma das questões levantadas em É possível educar sem palmadas?, da doutora em psicologia Luciana Maria Caetano. Mais do que dizer que ela não funciona, a especialista mostra quais caminhos os pais podem seguir para que consigam impor limites sem agressividade. O livro não traz fórmulas prontas, por isso, não pense que somente ele vai resolver os problemas de educação na sua casa. Deixe os seus pré-conceitos de lado e entre nessa reflexão com a gente.

CRESCER: Por que dar palmada não funciona?
Luciana Maria Caetano: Porque ela é falível. Nada garante que uma criança que apanha vai deixar de ter um comportamento inadequado. Pior: algumas crianças se acostumam com a palmada e não ligam mais quando os pais a ameaçam – o que significa que eles perderam a autoridade. Além, claro, do fato de que agressividade não faz bem. Vejo adultos que se indignam quando sabem de casos de violência, então por que alguns ainda acham normal bater numa criança? Não tenho dúvidas de que quando um pai bate numa criança ele mostra para ela que a violência é o meio de resolver os problemas, de que os mais fortes têm direito a bater nos mais fracos.

CRESCER: Quais as conseqüências da palmada para as crianças?
LMC: Primeiro, um argumento que ouço muito, é de pais que são a favor da palmada, de tapas, mas dizem que são contra a pancada. Mas como mensurar isso? Porque quando se está com raiva, é difícil medir a força. E a criança é frágil também. Além disso, a palmada gera na criança um sentimento de crédito: “fiz uma arte e, apanhando, paguei por ela. Agora estou livre para cometer novas”. É assim que os pequenos pensam. A palmada não é acompanhada de reflexão, do entendimento de que se faz a coisa errado. Por sua vez, os pais acabam distanciando-se dos filhos quando batem neles.

CRESCER: Se um adulto recebeu esse tipo de castigo dos pais e acha que isso foi responsável pela sua boa educação, como convencê-lo do contrário?
LMC: Essa é uma das perguntas mais difíceis de ser respondida. Hoje em dia vemos que, por conta do autoritarismo do passado, muitos pais foram para o caminho inverso, de não dar limite nenhum ao filho. E isso também é errado. Acho que os pais que creditam à palmada o fato de serem pessoas de bem na verdade o são por causa das regras claras que os seus pais impunham. Não encontrei nenhum adulto que tenha dito “ah, aquele dia foi muito especial para mim porque apanhei”. O que faz uma pessoa ser correta é a noção de certo ou errado que ela tem. Os pais do passado usavam a palmada para passar princípios, mas hoje sabemos que existem outras formas para isso.

CRESCER: E como os pais podem impor regras e limites sem usar a palmada?
LMC: Os pais precisam ser exemplo de justiça, respeito, dignidade, que são princípios universais. Não adianta falar para o seu filho não mentir se você próprio mente. Ou dizer para ele não ser agressivo se você explode em brigas no trânsito. Tem que explicar: "você escova os dentes porque isso é bom para a sua saúde". Frases como “se você não escovar eu vou te bater” ou “se você não escovar vou ficar triste” não são indicadas. Além disso, é essencial ser paciente. Educar uma criança exige paciência. Muitos pais usam a palmada porque esse é o caminho mais fácil.

CRESCER: O castigo, sem palmada, é válido?

LMC: Sim. Mas o castigo tem que estar diretamente relacionado com a “arte”. Sujou? Tem que limpar. Quebrou? No próximo final de semana não haverá passeio, pois o dinheiro será usado pra consertar. Nesse sentido, não dá para negociar com a criança e, quanto mais nova ela for, mais regras inegociáveis. Isso muda, claro, na adolescência. Os pais precisam voltar a ter firmeza. A historia do cantinho para pensar, para mim, não funciona. Especialmente para as crianças pequenas, até 6 anos. Elas ainda não têm raciocínio formal completamente desenvolvido e podem associar a ideia de que pensar é algo ruim. Alguns pais acham que a palmada é um jeito de castigar que vai resolver para sempre os problemas, mas não é bem isso, pois é a repetição que faz com que uma regra seja interiorizada e se torne um hábito.

CRESCER: O que significa, para a sociedade, ainda ter uma geração inteira de crianças que apanham dos pais?
LMC: Felizmente, eu não acredito em determinismo. As pesquisas são muito claras em mostrar que crianças que foram vítimas de agressão também se tornam mais agressivas, têm tendência a se tornar depressivas ou a se envolver com drogas. Mas é preciso lembrar que somos sujeitos ativos. Se mesmo com um ambiente familiar desestruturado a criança tiver oportunidade de conviver com modelos adultos de afetividade, na escola, por exemplo, acredito que ela terá chances de se tornar um adulto equilibrado e feliz.




Extraído da Revistacrescer

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