As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade... Por isso Nunca se deve tirar o brinquedo de uma criança, tenha ela oito ou oitenta anos. Mario Quintana


sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Felicidade?



Respondeu o mais tolo: "Felicidade não existe."
O intelectual: "Não no sentido lato."
O empresário: "Desde que haja lucro."
O operário: "Sem emprego, nem pensar!"
O cientista: "Ainda será descoberta."
O místico: "Está escrito nas estrelas."
O político: "Poder"
A igreja: "Sem tristeza? Impossível.... (Amém)"
O educador riu de todos e, por alguns minutos, foi feliz!


Somnus: como está seu sono?




O Sono

O sono que desce sobre mim,                             
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,  
O sono universal que desce individualmente sobre mim
Esse sono  
Parecerá aos outros o sono de dormir,  
O sono da vontade de dormir,  
O sono de ser sono.

Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:   
É o sono da soma de todas as desilusões,   
É o sono da síntese de todas as desesperanças,   
É o sono de haver mundo comigo lá dentro   
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.

O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.  
O cansaço tem ao menos brandura,  
O abatimento tem ao menos sossego,  
A rendição é ao menos o fim do esforço,  
O fim é ao menos o já não haver que esperar.  

Há um som de abrir uma janela,  
Viro indiferente a cabeça para a esquerda  
Por sobre o ombro que a sente,  
Olho pela janela entreaberta:  
A rapariga do segundo andar de defronte  
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.  
De quem?,  
Pergunta a minha indiferença.  
E tudo isso é sono.  

Meu Deus, tanto sono!...

Álvaro de Campos, in "Poemas" 





Poema de um desesperado

Quero dormir
Não quero pensar
Que existe crianças
Morrendo de fome
Idosos vivendo nas ruas
Doentes morrendo de câncer
Não quero saber de nada
Só quero dormir
Dane-se as guerras
Os mutilados
Dane-se os bolsões de miséria
Dane-se os hospitais públicos
Dane-se o SUS
A Educação falida
Dane-se a Amazônia
O Pantanal
O Meio Ambiente
Só quero dormir
Maldito são os políticos
Os religiosos
Ladrões de almas inocentes
Dane-se os idiotas
Só quero dormir
Esquecer que tudo isto existe
Que a Terra não é Terra
Que o inferno é aqui
Só quero dormir
Danem-se todos
Mas na verdade
O que eu queria mesmo
Que este Planeta
Fosse de paz e de amor



O poder da imaginação!!!

Imagine que você trabalha em uma empresa em que os funcionários não ganham de acordo com sua competência, mas sim segundo seu tempo de casa e nível de estudo. 
Não há promoções, mas também só há demissão em casos de violação grotesca. 
Mesmo faltando repetidamente ao serviço, não alcançando sua meta ano após ano e maltratando seu cliente, você continua no posto até se aposentar. 
Imagine que não exista, em sua região, universidade que prepare bem para o seu emprego, de forma que você já chega ao trabalho não sabendo muito. 
Pior: tem gente que trabalha em área diferente daquela em que foi formada; o cara de vendas se formou em letras. Imagine que essa empresa só tenha dois cargos (funcionário e chefe) e que quase metade dos chefes tenha chegado ao cargo por indicação de um conhecido dos donos (o restante é majoritariamente eleito para a posição pelos funcionários). 
Imagine que os donos são muitos, que eles não costumam frequentar a empresa e que a herdaram como parte de um conglomerado, do qual a sua empresa é uma das que agregam menos valor aos donos. 
Imagine agora que o serviço prestado pela sua empresa é complexo e dirigido a crianças e jovens. Imagine também que essas crianças e seus pais não saibam julgar a qualidade do serviço, mas achem que está tudo bem, desde que você o empacote em uma embalagem bonita e dê aos clientes alguns brindes (uns livros, umas roupas, de repente até um laptop aos mais sortudos). A empresa consegue dar todos esses brindes; a maioria dos clientes está, portanto, satisfeita.
Imagine que os clientes e seus familiares não precisem pagar diretamente pelo serviço: o pagamento vem da empresa-mãe (a que congrega todos os negócios do grupo) e é baseado na compra de outros produtos e serviços oferecidos por outras empresas do grupo.

Agora pense nesse ambiente de trabalho e responda às seguintes perguntas:
Se você trabalhasse nele, estaria motivado a dar o seu melhor ou pegaria leve, esperando o contracheque no fim do mês? Como você acha que seus outros colegas de empresa se comportariam? Se lhe dessem um aumento salarial, você se esforçaria mais? Se você fosse uma pessoa carreirista, permaneceria nessa empresa? Aliás, você teria entrado nela? No caso dos chefes indicados pelos amigos dos donos, você acha que eles estariam mais preocupados em agradar aos clientes ou aos donos e seus amigos? No caso dos chefes eleitos por você e seus colegas, acha que eles comprariam briga com você para defender os interesses dos clientes ou virariam seus aliados? Presumindo que os clientes permanecessem satisfeitos e que continuassem pagando indiretamente pelo serviço, você acha que os donos se interessariam em reformar a empresa para que ela servisse melhor sua clientela, desse mais resultados? Ou será que suas prioridades seriam manter a coisa no estado em que se encontra e devotar suas energias para os outros braços do conglomerado, os que dão mais retorno?

          Não sei qual o grau de sua fé na humanidade nem suas crenças na natureza humana, mas eu tendo a achar que a empresa acima seria uma balbúrdia, com profissionais desmotivados e trabalhando abaixo de sua capacidade, clientes mal atendidos, conchavos entre funcionários e chefes, donos desinteressados e pouco envolvidos. Eu acho que melhorar o salário dos funcionários não mudaria o problema. Vou além: enquanto essa estrutura de incentivos não fosse alterada, qualquer investimento numa empresa assim seria um desperdício de tempo e dinheiro. Aliás, não é uma opinião, até porque esse cenário não é hipotético nem trata de empresas. O quadro descrito retrata a maioria das escolas públicas brasileiras. Os funcionários são os professores, os chefes são os diretores de escola, os donos são a classe política, os clientes são os alunos. O resto não carece de alterações para chegar à realidade.

          Aposto que você sabe que nossa educação é péssima e que esse problema é fatal para nossas possibilidades de desenvolvimento. Aposto também que você acha que esse problema não o afeta, especialmente se você põe seu filho em escola particular. Aposto que gasta mais tempo na seção de esportes do seu jornal do que naquela que cuida de educação. Se é que o seu jornal tem uma seção devotada ao assunto, já que 90% da cobertura do tema se limita a notícias sobre greves, ameaças de greve e outras reclamações salariais. E, até porque o assunto é apenas esse — dinheiro —, você acha (acha não: você tem certeza, depois de vinte ou trinta anos de leituras sobre o assunto) que o principal problema da educação brasileira é o salário dos professores. Aposto também que, dois parágrafos antes, você respondeu que aumentar o salário dos funcionários não resolveria nada, e aposto também que você gosta dos brindes (se você for mais pobre, merenda; se mais rico, lousa eletrônica ou currículo bilíngue) que a escola do seu filho dá.



domingo, 12 de agosto de 2012

Ao dia dos Pais: livro pê de pai

Uma homenagem aos pais e filhos que tornaram-se amigos.


Um pai é capaz de se transformar nas coisas mais incríveis:
num trator, num escadote,
num colchão, ou num esfregão...

Pê de pai é um livro que olha de perto a relação de cumplicidade
entre pai e filho. E que convida filhos e pais
a descobrirem-se juntos, ao virar de cada página.

A cor do som


Com seu silêncio, algumas imagens simplesmente cantam para nós.
O som do preconceito: será que ele é mesmo filho dela?
Mas também o som do calor materno, do afeto, da proteção.
O som da canção de ninar.
Ela cantava para o bebê enquanto fotografavam, com certeza.



O Capim

No Curso de Medicina, o professor se dirige ao aluno e pergunta:

- Quantos rins nós temos?
- Quatro! Responde o aluno.
- Quatro? Replica o professor, arrogante, daqueles que sentem prazer em tripudiar sobre os erros dos alunos.
- Traga um feixe de capim, pois temos um asno na sala. Ordena o professor a seu auxiliar.
- E para mim um cafezinho! Replicou o aluno ao auxiliar do mestre.
O professor ficou irado e expulsou o aluno da sala. O aluno era, entretanto, o humorista Aparício Torelly Aporelly (1895-1971), mais conhecido como o 'Barão de Itararé'.
- O senhor me perguntou quantos rins 'nós temos'.

Ao sair da sala, o aluno ainda teve a audácia de corrigir o furioso mestre:
- 'Nós' temos quatro: dois meus e dois seus. 'Nós' é uma expressão usada para o plural.
Tenha um bom apetite e delicie-se com o capim.


A vida exige muito mais compreensão do que conhecimento! 
Às vezes as pessoas, por terem um pouco a mais de conhecimento ou 'acreditarem' que o tem, se acham no direito de subestimar os outros . . .

E haja capim!!!



domingo, 20 de maio de 2012

Eu quero tchu

“Eu quero tchu, eu quero tcha, eu quero tchu tcha tcha tchu tchu tcha” 


Uns dizem que não é canção
Outros que é ruído

As rádios não dão outra opção
Os ouvidos já tão tudo doído

"Não gosto de ouvir", diz seu João
e Vovó, "que é coisa do Inimigo".




sábado, 7 de abril de 2012

O dia que fui brinquedo

O educador não deve se abaixar até a criança, mas elevar-se a ela e ao seu modo de ver e compreender  as coisas.

            Quando se trata da natureza infantil, aprendi que nela a fantasia é infinita: o que era lata vira carro, ser imaginário é melhor amigo.
            Estávamos na sala de estar. Eu e os Quatro Pequenos. Todos em cima de mim, literalmente. Vou tentar descrever.







            As Duas Menores me imobilizaram abraçando minhas pernas. Caí sentado no sofá. O Garotinho pegou meu braço e puxou contra seu corpo deitado. A Mais Velha, de oito anos, não perdeu tempo. Subiu logo nas almofadas, e começou uma difícil e divertida escalada na montanha de carne que ela entendeu ser as minhas costas. O cume era o meu cangote¹. Foi então que percebi que estava em apuros. Ora! Imagine, eram quatro, QUATRO grandes e persistentes guerreiros mirins superpoderosos contra um singelo adulto desarmado. Eu precisava reagir rápido, pois meu fim parecia bem próximo. Para não ser derrotado, incorporei um monstro forte e mal encarado que meu pai criara durante minha infância. Ele possuía enormes mãos fazedoras de cócegas. Comecei a revidar. A cada golpe que dava os risos e gargalhadas espirravam para todos os lados. Um a um, eles sucumbiram. Foi um verdadeiro e hilário massacre. A Mais Velha caída e sem forças, limpou os risos que ainda escorriam de sua boca e me falou: “Tio, você parece um brinquedo. A gente pula, monta, sobe, brinca em cima de você igualzinho a um parquinho. Faz de novo! Vai faz!”.
            Seria mais um fim de tarde igual a qualquer outro. Comum se não fosse o comentário dessa criança. Pode um adulto ser comparado a um brinquedo? Eu, um brinquedo? Como pode isso?
            A sabedoria infinita daquela garotinha me fez refletir sobre quem quero ser: um educador que entende que pode fazer diferença para alguém em algum lugar, em alguma ocasião. Basta apenas conseguir enxergar esses momentos.
          Agora sei que crianças são capazes de trocar qualquer brinquedo por alguns momentos de diversão com um Adulto Brinquedo. É como se as borboletas ignorassem o perfume e a beleza das flores para pousar nos ombros cativados de um homem...
          E com os beijos, abraços e brincadeiras dos meus pequenos vou vivendo. É assim que me renovo.

Nota¹: Parte posterior do pescoço.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O professor, o educador e as estrelas-do-mar de Pitangui/RN

          Havia um Professor que morava na praia de Pitangui/RN. Todos os  dias pela manhã ele caminhava contemplando as cores do mar e respirando a doce brisa salgada daquele pedaço do litoral nordestino. Dizia ele, que esse ritual era o mais valioso combustível que lhe fazia continuar a seguir nos seus arrastados 10 anos de carreira docente.
          Certo dia, viu um Jovem Educador devolvendo gentilmente ao mar, as estrelas-do-mar que eram trazidas até à areia pela força das ondas. Ao reconhecer que era um ex-aluno de uma brilhante escola ambiental que existe por lá, o Professor aproximou-se e perguntou:
            - Por que tu fazes isso meu rapaz?
            Prontamente o Jovem Educador respondeu:
            - Porque se eu deixá-las ao sol, elas vão secar e morrer.
            Ouvindo isso, o Professor, sujeito de conhecimentos superiores, respondeu-lhe:
        - Mas meu jovem existem milhões e milhões de quilômetros de praias ao redor do mundo, com milhões de estrelas-do-mar e com um sol tão escaldante quanto esse que doura tua pele. Você aqui não fará diferença.
            O Jovem Educador escutou calado. Sem responder, abaixou-se. Com um ar sereno e sossegado que só os educadores possuem, pegou uma linda estrela-do-mar em uma de suas mãos e disse:
            - Sei que são muitas as estrelas perdidas, mas veja esta linda estrela em minhas mãos...
            E lançando-a ao mar, continuou:
            - Posso não fazer a diferença para todas, mas para esta eu acabei de fazer!

         Aquela experiência foi tão perplexa e incômoda que o Professor não instruiu mais suas aulas. Não conseguiu engolir a lição que recebera. Foi como se uma espinha de peixe estivesse atravessada em sua garganta impedindo-o de engolir o belo exemplo. E quando engoliu, a digestão o empurrou numa profunda crise de identidade profissional. A atitude do Jovem Educador o fez compreender que Professores são muitos, Educadores são Um. Ele sentiu-se como um náufrago no imenso e complexo mar da educação, pois a reflexão o fez descobrir que nunca alcançara o educar e o cuidar, não fazia a diferença para as belas estrelinhas-do-mar que tinha em sala de aula. Ele apenas lecionava.
          Resolveu então arremessar sua carreira no abismo dos maus professores que pedem demissão e saiu da escola. Dedica-se agora ao turismo da região.
          Quanto ao Jovem Educador? Ele ainda pode ser encontrado fazendo a diferença naquela praia.


Texto causado por três anos de convivência matinal com um sempre Jovem Educador de “peso”, membro SaintClair de uma Escola que as estrelas-do-mar e a maresia afirmam ser das Dunas de Pitangui/RN.
O post é uma adaptação da "Parábola das estrelas-do-mar" e utiliza algumas colagens de suas diversas versões encontradas na internet.

Educar é pra poucos

           Educar é um ato heroico em qualquer cultura.
          Talvez seja pelo fato de que educar exige que a pessoa saia um pouco de si e vá ao encontro do outro; um outro que me questiona; um outro que me confronta com meus próprios fantasmas, meus próprios medos, minha própria insegurança.
          Talvez seja pelo fato de educar exige sacrifício, exige renuncia de si, exige abandono, exige fé, exige um salto no escuro.
            Talvez por isso seja algo para poucos.
            Seja para pessoas que acreditam nas outras pessoas.
            Seja para pessoas que não se acomodaram diante da mesmice que a sociedade pede todos os dias.
            Talvez por isso seja mais fácil encontrar professores que educadores.
            Professores são donos do conhecimento.
            Educadores são mediadores.
            Professores são profissionais de ensino.
            Educadores fazem do ensino um estimulo para crescimento pessoal.
            Professores usam a palavra como instrumento.
            Educadores usam o silêncio.
            Professores batem as mãos na mesa.
            Educadores batem o pé no chão.
            Professores são muitos.
            Educadores são Um.
            O educador tem os pés no chão, mas sua cabeça esta sempre nas alturas porque acredita que quem está à sua frente não é um cliente esperando para ser atendido, mas uma pessoa aguardando orientação para seguir os passos. Esta é a razão de ser educador. Está é sua esperança. E, para isso, o educador precisa ser inteiro, precisa ser completo, precisa estar em sintonia consigo mesmo e com o universo.
            Por isso é para poucos, mas não deveria ser assim. O ideal seria que toda sociedade estivesse voltada para a realização de todos e não apenas para a de alguns
privilegiados que se sentem como deuses e querem decidir a vida das pessoas. O certo seria que todo ser humano desenvolvesse seus dons e talentos para o bem de todos e que não fossem algo extraordinário alguém sobressair-se por causa de seu potencial artístico. Simplesmente deveria ser assim com todos; deveria ser comum todos os seres poderem expressar sua alegria de estar vivo sem precisar “vender” seus talentos para manterem-se vivos.
             Infelizmente, no entanto, a realidade que vivemos foi “pensada” de um jeito tal que as pessoas são compreendidas como máquinas de ganhar dinheiro, como objetos de consumo, como um monte de lixo que servirá apenas de estrume para aqueles que dominam o sistema atual.
         É preciso reverter este quadro. É preciso que os professores criem uma consciência nova, dinâmica, ancestral, para que um novo jeito de pensar venha à tona e possa colocar em xeque-mate uma sociedade que desvaloriza o ser humano em detrimento do dinheiro, do acúmulo, do consumo. É preciso que os professores virem educadores de verdade e possam despertar nossos para o futuro que se inscreve em nossa memória ancestral. Só assim teremos um amanhã. 


Sobre piolhos e outros afagos
Daniel Munduruku
Editora Palavra de Índio



segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Carta de apelo aos Deuses

Datada de 01/01/2012

Saudações Divindades.
É com muita esperança que vos escrevo.

            Faz mais de dois mil anos que lhes discorro e são mais de dois mil anos sem retorno. Nenhum email, nenhuma msg, fax ou scrap. Nada. Se ao menos vocês ficassem on no MSN...
            Por favor, suplico-lhes que me respondam.
            Por que vocês permitem que aproximadamente 925 milhões de pessoas no mundo não comam o suficiente para serem consideradas saudáveis? É obvio que vocês sabem que isso significa que uma em cada sete pessoas no planeta vai para a cama com fome todas as noites. Mães desnutridas muitas vezes dão à luz bebês abaixo do peso. Essas crianças tem 20% mais probabilidade de morrer antes dos cinco anos de idade. Cerca de 17 milhões de crianças nascem abaixo do peso a cada ano.
            Por que vossas magnificências fecharam os olhos para os campos de concentração da segunda grande guerra do século XX?
            Quantos moleques na vida do crime? Quantas famílias na vida do crime? Quantas autoridades na vida do crime? Sem falar daqueles políticos que vivem e sobrevivem da vida do crime.
            Por que vocês deixaram que as lágrimas se tornassem sinônimo de rotina para as crianças órfãs dos intensos conflitos religiosos na Europa e no oriente médio?
            A acústica de vossos palácios não lhes permitem ouvir a sinfonia dos alvoroços e gritos de todas essas vítimas?
            O Homem que vocês criaram, sabiamente à vossa imagem e semelhança, parece não ter limites.
            Por um mero olhar curioso a esposa de Ló (isso mesmo, esposa de Ló. A história não menciona o nome desta pobre coitada) foi transformada em estátua de sal. Façam alguma coisa. Recordo que por muito menos aqueles dois jovens inocentes foram castigados. Lembram da maçã?
            Diariamente muitos de meus professores trabalham com medo, sob ameaças. Com receio de serem mais uma vítima do avançado e democrático sistema educacional brasileiro.
            Já me passou de um dia parar com tudo isso. Essa vida louca. Mas de que jeito?
            Se não sou a solução, será que sou eu o problema? Ou se não sou o problema, será que está em mim a solução?
            De uma coisa tenho certeza: a ferida está aberta e eu não consigo estancar.
            O que vocês estão esperando?
            Se preferem continuar escondidos em vossos paraísos, então façam-me um instrumento de vossa paz.
            Mas não demorem. Apesar dos meus esforços, sinto-me sem forças.

Atenciosa e desesperadamente,
Educação
PS: É com lástimas que o Bar do Pedagogo informa que, apesar das várias tentativas de entrega, faz 2012 anos que as cartas vem sendo devolvidas com o carimbo “Remetente ausente ou não localizado” no verso. Contudo, a Educação não desistirá. Embora pareça em vão, ela insistirá exaustiva e incansavelmente no (re)envio. De toda forma, parece que só nos resta rezar, orar, pedir benção, fazer trabalho, despacho, jejuar... e/ou buscar coragem no fundo de nossas entranhas e enfrentar com franqueza, seriedade e dedicação os nossos desafios. A Educação precisa de nós.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Carnaval serve para quê?

Em um sonho que sonhei, Paulo Freire me disse:
Nosso Brasil está sendo carnaval, está sendo bunda.
Nosso Brasil precisa "ser mais".






Governo Federal lança campanha pela proteção das crianças e adolescentes no carnaval

Não vamos ignorar os direitos de nossos pequenos cidadãos. Precisamos sair do conformismo e encarar a violência sexual de frente.




          A grande mobilização do Governo Federal, liderada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), para proteção dos direitos de crianças e adolescentes no carnaval, pretende contar em 2012 com a ajuda de toda a sociedade para o enfrentamento do problema. Com o Slogan “LIGA DA PROTEÇÃO – Proteja nossas crianças e adolescentes. Violência sexual é crime. Denuncie”, a campanha estará presente em 19 capitais brasileiras. A ministra da SDH/PR, Maria do Rosário, participará dos lançamentos da campanha em Salvador e Recife, nos dias 16 e 17, respectivamente.
          O objetivo da mobilização, segundo a ministra Maria do Rosário, é convocar a sociedade para a responsabilidade de proteger as crianças e adolescentes. “Carnaval é festa, é alegria, diversão, mas é também proteção. Queremos que toda a população esteja atenta ao que acontece com nossas crianças e adolescentes e denuncie qualquer violação, seja através do Disque 100 ou do Conselho Tutelar da sua cidade”, disse.
Maria do Rosário explicou ainda que a campanha liderada pelo governo federal pretende formar uma grande rede de atenção e cuidado. “Queremos que todas as pessoas que se preocupam com os nossos meninos e meninas estejam na Liga da Proteção. Quanto maior for essa Liga, mais crianças estarão protegidas nesse carnaval”, enfatizou.
          A mobilização acontecerá nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, Vitória, Belo Horizonte, Natal, João Pessoa, Boa Vista, Campo Grande, Rio Branco, Goiânia, Florianópolis, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Manaus, Fortaleza e Belém. A ideia é realizar atividades de sensibilização para o período pré-carnavalesco com foco na prevenção, além de mobilizações durante todo o carnaval, que envolvam a divulgação do Disque Direitos Humanos – o Disque 100 – serviço gratuito que funciona 24h nos sete dias da semana para receber denúncias de violência contra crianças e adolescentes e do Conselho Tutelar.
          A ampla divulgação por meio da internet será também um trunfo para redução da incidência de casos de violência sexual na infância e adolescência durante o período festivo. As ações na rede compreendem a mobilização pelas mídias sociais com a hashtag #ligadaprotecao e pelo site http://ligadaprotecao.com.br.
          Durante o período carnavalesco serão distribuídas peças com a arte da campanha divulgando o serviço. As ações serão feitas por meio de marketing, tais como jingle, cartazes, banners, adesivos, camisetas, bonés, dentre outros. A mobilização será realizada em blocos de carnaval, aeroportos, rede hoteleira, bares, restaurantes, rodoviárias e estradas.
       A realização é uma parceria da SDH/PR estados, municípios, Comissão Intersetorial de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, que reúne ministérios e outros órgãos da administração federal envolvidos na implementação de políticas integradas que enfrentem a violência sexual. Participam ainda desse colegiado organismos internacionais e representantes da sociedade civil organizada e de empresas.
         Disque Direitos Humanos – O Disque Direitos Humanos, ou Disque 100, é coordenado pela SDH/PR, com apoio da Petrobras, que funciona 24h nos sete dias da semana. A ligação é gratuita e pode ser feita a partir de qualquer região do Brasil, de telefones fixos ou celulares. Ao longo de 2011 o Disque fez 866.088 atendimentos e recebeu 82.281 denúncias de violações dos direitos de crianças e adolescentes. Todas foram encaminhadas às autoridades locais competentes. Desde maio de 2003, quando o serviço entrou em funcionamento, foram realizados mais de 3 milhões de atendimentos e recebidas 227.427 denúncias.



sábado, 17 de dezembro de 2011

A Cegueira da Alma: o caso dos olhos puxados


       Não vamos tratar aqui de uma cegueira decorrente da diabetes ou por complicações da sífilis. Muito menos de uma conseqüência da hipertensão arterial ou intracraniana. Embora semelhante, também não abordaremos a cegueira branca de José Saramago. Vamos falar da Cegueira da Alma, uma enfermidade que está acometendo muita gente grande desse mundo.

      A Cegueira da Alma é uma doença forte, cruel e sem limites. Ela afeta o consciente do homem através do seu inconsciente, transformando o ser humano em ser desumano. Dentre seus sintomas estão a arrogância, a intolerância, a brutalidade, a agressão, a violência, a barbaridade, a ignorância, a estupidez e diversos outros sentimentos malditos.

     Apesar de essa mazela infectar apenas os crescidos as principais vítimas são as crianças que convivem com os adultos doentes. Para termos uma idéia, um adulto infectado pode, entre outras atrocidades, violentar um recém nascido, forçar meninas de 9 anos de idade a se casarem com homens de 30, deixar uma criança de 8 anos em casa cuidando de outras duas mais jovens, sacudir um bebê com a intenção de fazê-lo “engolir” o choro.

      Quer mais? Analisemos então o vídeo abaixo. Ele foi gravado em algum lugar da China e mostra os momentos de desespero e sofrimento de uma criança atropelada por um homem contaminado pela Cegueira da Alma.

      Para entender melhor a gravidade da doença observem no vídeo quantos “olhos puxados” a Cegueira da Alma já infectou e quais as conseqüências para a criança envolvida.

"Assisti e chorei. Sofri. Para afogar tudo aquilo que eu tinha em meu peito, resolvi escrever. Nessa noite a Educação sonhou que estava cega.”




           

Cê ta de castigo. Vá ler um livro.

       
         Confesso que as palavras que precedem essa postagem não são consideradas socialmente virtuosas. Se ditas em algumas escolas elas geram multas aos seus locutores. Em outras, mesmo que faladas na hora do recreio, levam à castigos com a palmatória, à alguns açoites nas costas ou, acreditem, ao pior e mais maléfico de todos os castigos, que é escrever tais palavras proibidas cem, duzentas vezes para esquecê-las. Este ultimo nem os  "pestinhas" do 4º ano merecem.

            Numa moderna escola instalada nos arredores do Bar do Pedagogo os professores resolveram inovar, pois entendem que o castigo físico é um método já ultrapassado. Eles sabem que para uma instituição de ensino ser considerada moderna ela precisa deixar antigos costumes de lado. Foi então que decidiram substituir aquele objeto confeccionado em madeira com uma parte arredondada, incansavelmente utilizado outrora, pelo “pai dos burros que falam palavrão”: o livro de literatura. A nova punição adotada é fazer com que os estudantes que falam @#$%&?! na sala de aula ouçam, sem dó nem piedade, a mais temida e assustadora frase escolar: “Cê tá de castigo. Vá ler um livro”. Alguns alunos preferem ir para a recuperação em matemática à ouv-i-la.

            Contudo, os frutos desse belo trabalho logo surgiram. Nos primeiros três meses de utilização o urro “Cê tá de castigo. Vá ler um livro” reduziu em 50% os pronunciamentos chulos na escola e conseguiu afastar, para sempre, cerca de 137 alunos das obras machadianas. E esses números não param de crescer. 



sábado, 10 de dezembro de 2011

Diário da Educação: 03/12/2011

03/12/2011.

06h00min. A Educação abre os olhos, calça os chinelos e vai lavar-se ao banheiro.

06h30min. Toma café assistindo a reportagem do garoto de 11 anos que atirou na professora e em seguida suicidou-se. Pergunta para si mesma:

            - Será que levantei com o pé esquerdo, hoje?

07hs30min. Está no ponto de ônibus aguardando a condução. Ouve Duas Senhoras conversando sobre um caso de pedofilia acontecido numa escola municipal ali do bairro.

07hs50min. Ela enxerga seu ônibus no horizonte. O Motorista não reduz a velocidade e faz sinais com as mãos tentando explicar que está “lotado” e não pára. Todos na parada resmungam. O Senhor que também esperava a condução xinga o Motorista e o chama de mal educado.

08hs00min. A Educação sobe noutro ônibus com a esperança de que não vai se atrasar para o compromisso diário com a Humanidade.

12hs00min. A Educação vaga pela avenida Rio Branco. Seu estomago começa a reclamar o almoço. Na tentativa de enganá-lo, resolve comprar uma pipoca vendida por um Ambulante Analfabeto que cruza por ali. O Ambulante Analfabeto lhe passa o troco errado. A Educação, muito educada, devolve os centavos a mais. Ele não agradece, pois crê que a culpa foi dela. Ela pensa:

            - Preciso ter mais zelo com os Analfabetos.

16hs10min. A Educação pára numa banca. Compra uma revista que trata sobre escola cuja matéria de capa destaca: Jovem Brasileiro morre baleado dentro da sala de aula enquanto aprendia sobre a paz.

18hs00min. Está sentada na condução de volta ao seu lar.

18hs15min. Muito educada, cede seu lugar a uma Gestante, que imediatamente aceita, mas não lhe agradece a gentileza. Em mais um monólogo mental a Educação reflete:

            - Que a Criança que esta Gestante carrega ouça palavras de agradecimentos em sua educação.

18hs35min. Um Garoto entra no ônibus e grita:

            - Eu pudia tá robano por aê, mas invés disso tô aqui vendeno cocada. É só um real. Compre pá eu puder ajudar minha Mãe que tem sete Filhos pra criar. Olha a cocada. Cocada feita com muito carinho pra vocês. É só um real.

19hs30min. A Educação chega em casa. Deita-se no sofá da sala. Começa a pensar nos problemas que a Humanidade lhe comprovara a existência e adormece. Estava exausta.

sábado, 26 de novembro de 2011

Elogio da Loucura

Numa dessas ricas conversas entre professores e alunos das quais os corredores da UFRN são testemunhas oculares, ouvi de um professor uma resenha do livro Elogio da Loucura, cuja autoria é do Erasmo de Rotterdam. Naquele momento, percebi meus ouvidos enviando suas famintas ordens para minhas glândulas salivares e, inexplicavelmente, comecei a salivar como se estivesse escutando o cheiro do feijão que só mamãe sebe preparar. Para satisfazer aquela fome desgraçada que me acometeu, convidei minha digníssima esposa a ir comigo no restaurante que vende livros (leia-se: livraria Siciliano do Natal Shopping) e pedi aquele prato que foi cozido no forno da loucura (leia-se: o livro Elogio da Loucura). Desde então venho padecendo na sua eterna digestão.

Erasmo faz na obra Elogio da Loucura fortes críticas as atitudes do homem e o acusa de utilizar a Loucura para a tomada de suas decisões. O autor considera que todos os atos humanos são desencadeados pela Loucura.
No discurso XIII, a Loucura - que durante todo o livro se apresenta em primeira pessoa, defendendo sua figura e seu ponto de vista - nos presenteia com o belíssimo argumento abaixo:
           E para começar, quem não sabe que a primeira idade do homem é para todos, de longe, a mais alegre e agradável? Mas o que tem as crianças que nos faz beijá-las, abraçá-las, acariciá-las tanto, que até os inimigos lhes vêm em auxílio? O que senão a graça que vem da falta de juízo, aquela graça que a prudente natureza se empenha em infundir nos recém-nascidos para que, por uma espécie de compensação agradável, possam amenizar as fadigas de quem os educa e conquistar a simpatia de quem deve protegê-los? E da adolescência que se segue à infância, como agrada a todos, que entusiasmo sincero provoca, que atenções carinhosas recebe, com que bondade todos lhe estendem a mão! Mas de onde vem, por favor, essa benevolência para com a juventude? De onde, senão de mim? É por mérito meu que os jovens são tão carentes de juízo; por isso estão sempre de bom humor. Eu mentiria, porém se não admitisse que tão logo crescem um pouco e começam a adquirir certa maturidade com a experiência e a educação, a beleza logo murcha, diminui a alegria, esmorece a graça, decresce o vigor. Quanto mais se distanciam de mim, menos vivem (...) p. 25.
 
           Em outro momento ela, a deusa Loucura, nos brinda com o seguinte:

           Em suma, sem mim nenhuma sociedade, nenhum relacionamento feliz poderia durar. O povo cansar-se-ia do príncipe; a serva, da patroa; o professor, do aluno; o amigo, do amigo; a mulher, do marido (...) se de vez em quando não se enganassem uns aos outros, ora adulando-se, ora sabiamente fingindo não ver, ora bajulando-se com o mel da loucura. (...) p. 35.
Nos trechos citados, percebemos o quanto o autor foi terno e abusado em suas palavras. Por isso, por causa de sua maneira peculiar e atrevida de expor seus argumentos, ele conseguiu prender meu inconsciente nas suas palavras. Elogio da Loucura é uma obra prima que propõe enriquecer nosso repertório de idéias “loucas”.

Concluo tendo a certeza que para um indivíduo (eu) se inscrever, influenciado por outro, num vestibular para Pedagogia, ter a sorte de conseguir ser aprovado no certame, querer concluir o curso e dizer que possui coragem de mergulhar no mar de torturas dos pedagogos formados pela UFRN, precisa ser, no mínimo, “louco” com L maiúsculo. “Louco” não, muito “Louco”. Pobre alma.


Por Rodrigo Barros

Referência: ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da Loucura. Tradução de Paulo Sergio Brandão. São Paulo: Martin Claret, 2008.