As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade... Por isso Nunca se deve tirar o brinquedo de uma criança, tenha ela oito ou oitenta anos. Mario Quintana


sábado, 17 de dezembro de 2011

A Cegueira da Alma: o caso dos olhos puxados


       Não vamos tratar aqui de uma cegueira decorrente da diabetes ou por complicações da sífilis. Muito menos de uma conseqüência da hipertensão arterial ou intracraniana. Embora semelhante, também não abordaremos a cegueira branca de José Saramago. Vamos falar da Cegueira da Alma, uma enfermidade que está acometendo muita gente grande desse mundo.

      A Cegueira da Alma é uma doença forte, cruel e sem limites. Ela afeta o consciente do homem através do seu inconsciente, transformando o ser humano em ser desumano. Dentre seus sintomas estão a arrogância, a intolerância, a brutalidade, a agressão, a violência, a barbaridade, a ignorância, a estupidez e diversos outros sentimentos malditos.

     Apesar de essa mazela infectar apenas os crescidos as principais vítimas são as crianças que convivem com os adultos doentes. Para termos uma idéia, um adulto infectado pode, entre outras atrocidades, violentar um recém nascido, forçar meninas de 9 anos de idade a se casarem com homens de 30, deixar uma criança de 8 anos em casa cuidando de outras duas mais jovens, sacudir um bebê com a intenção de fazê-lo “engolir” o choro.

      Quer mais? Analisemos então o vídeo abaixo. Ele foi gravado em algum lugar da China e mostra os momentos de desespero e sofrimento de uma criança atropelada por um homem contaminado pela Cegueira da Alma.

      Para entender melhor a gravidade da doença observem no vídeo quantos “olhos puxados” a Cegueira da Alma já infectou e quais as conseqüências para a criança envolvida.

"Assisti e chorei. Sofri. Para afogar tudo aquilo que eu tinha em meu peito, resolvi escrever. Nessa noite a Educação sonhou que estava cega.”




           

Cê ta de castigo. Vá ler um livro.

       
         Confesso que as palavras que precedem essa postagem não são consideradas socialmente virtuosas. Se ditas em algumas escolas elas geram multas aos seus locutores. Em outras, mesmo que faladas na hora do recreio, levam à castigos com a palmatória, à alguns açoites nas costas ou, acreditem, ao pior e mais maléfico de todos os castigos, que é escrever tais palavras proibidas cem, duzentas vezes para esquecê-las. Este ultimo nem os  "pestinhas" do 4º ano merecem.

            Numa moderna escola instalada nos arredores do Bar do Pedagogo os professores resolveram inovar, pois entendem que o castigo físico é um método já ultrapassado. Eles sabem que para uma instituição de ensino ser considerada moderna ela precisa deixar antigos costumes de lado. Foi então que decidiram substituir aquele objeto confeccionado em madeira com uma parte arredondada, incansavelmente utilizado outrora, pelo “pai dos burros que falam palavrão”: o livro de literatura. A nova punição adotada é fazer com que os estudantes que falam @#$%&?! na sala de aula ouçam, sem dó nem piedade, a mais temida e assustadora frase escolar: “Cê tá de castigo. Vá ler um livro”. Alguns alunos preferem ir para a recuperação em matemática à ouv-i-la.

            Contudo, os frutos desse belo trabalho logo surgiram. Nos primeiros três meses de utilização o urro “Cê tá de castigo. Vá ler um livro” reduziu em 50% os pronunciamentos chulos na escola e conseguiu afastar, para sempre, cerca de 137 alunos das obras machadianas. E esses números não param de crescer. 



sábado, 10 de dezembro de 2011

Diário da Educação: 03/12/2011

03/12/2011.

06h00min. A Educação abre os olhos, calça os chinelos e vai lavar-se ao banheiro.

06h30min. Toma café assistindo a reportagem do garoto de 11 anos que atirou na professora e em seguida suicidou-se. Pergunta para si mesma:

            - Será que levantei com o pé esquerdo, hoje?

07hs30min. Está no ponto de ônibus aguardando a condução. Ouve Duas Senhoras conversando sobre um caso de pedofilia acontecido numa escola municipal ali do bairro.

07hs50min. Ela enxerga seu ônibus no horizonte. O Motorista não reduz a velocidade e faz sinais com as mãos tentando explicar que está “lotado” e não pára. Todos na parada resmungam. O Senhor que também esperava a condução xinga o Motorista e o chama de mal educado.

08hs00min. A Educação sobe noutro ônibus com a esperança de que não vai se atrasar para o compromisso diário com a Humanidade.

12hs00min. A Educação vaga pela avenida Rio Branco. Seu estomago começa a reclamar o almoço. Na tentativa de enganá-lo, resolve comprar uma pipoca vendida por um Ambulante Analfabeto que cruza por ali. O Ambulante Analfabeto lhe passa o troco errado. A Educação, muito educada, devolve os centavos a mais. Ele não agradece, pois crê que a culpa foi dela. Ela pensa:

            - Preciso ter mais zelo com os Analfabetos.

16hs10min. A Educação pára numa banca. Compra uma revista que trata sobre escola cuja matéria de capa destaca: Jovem Brasileiro morre baleado dentro da sala de aula enquanto aprendia sobre a paz.

18hs00min. Está sentada na condução de volta ao seu lar.

18hs15min. Muito educada, cede seu lugar a uma Gestante, que imediatamente aceita, mas não lhe agradece a gentileza. Em mais um monólogo mental a Educação reflete:

            - Que a Criança que esta Gestante carrega ouça palavras de agradecimentos em sua educação.

18hs35min. Um Garoto entra no ônibus e grita:

            - Eu pudia tá robano por aê, mas invés disso tô aqui vendeno cocada. É só um real. Compre pá eu puder ajudar minha Mãe que tem sete Filhos pra criar. Olha a cocada. Cocada feita com muito carinho pra vocês. É só um real.

19hs30min. A Educação chega em casa. Deita-se no sofá da sala. Começa a pensar nos problemas que a Humanidade lhe comprovara a existência e adormece. Estava exausta.

sábado, 26 de novembro de 2011

Elogio da Loucura

Numa dessas ricas conversas entre professores e alunos das quais os corredores da UFRN são testemunhas oculares, ouvi de um professor uma resenha do livro Elogio da Loucura, cuja autoria é do Erasmo de Rotterdam. Naquele momento, percebi meus ouvidos enviando suas famintas ordens para minhas glândulas salivares e, inexplicavelmente, comecei a salivar como se estivesse escutando o cheiro do feijão que só mamãe sebe preparar. Para satisfazer aquela fome desgraçada que me acometeu, convidei minha digníssima esposa a ir comigo no restaurante que vende livros (leia-se: livraria Siciliano do Natal Shopping) e pedi aquele prato que foi cozido no forno da loucura (leia-se: o livro Elogio da Loucura). Desde então venho padecendo na sua eterna digestão.

Erasmo faz na obra Elogio da Loucura fortes críticas as atitudes do homem e o acusa de utilizar a Loucura para a tomada de suas decisões. O autor considera que todos os atos humanos são desencadeados pela Loucura.
No discurso XIII, a Loucura - que durante todo o livro se apresenta em primeira pessoa, defendendo sua figura e seu ponto de vista - nos presenteia com o belíssimo argumento abaixo:
           E para começar, quem não sabe que a primeira idade do homem é para todos, de longe, a mais alegre e agradável? Mas o que tem as crianças que nos faz beijá-las, abraçá-las, acariciá-las tanto, que até os inimigos lhes vêm em auxílio? O que senão a graça que vem da falta de juízo, aquela graça que a prudente natureza se empenha em infundir nos recém-nascidos para que, por uma espécie de compensação agradável, possam amenizar as fadigas de quem os educa e conquistar a simpatia de quem deve protegê-los? E da adolescência que se segue à infância, como agrada a todos, que entusiasmo sincero provoca, que atenções carinhosas recebe, com que bondade todos lhe estendem a mão! Mas de onde vem, por favor, essa benevolência para com a juventude? De onde, senão de mim? É por mérito meu que os jovens são tão carentes de juízo; por isso estão sempre de bom humor. Eu mentiria, porém se não admitisse que tão logo crescem um pouco e começam a adquirir certa maturidade com a experiência e a educação, a beleza logo murcha, diminui a alegria, esmorece a graça, decresce o vigor. Quanto mais se distanciam de mim, menos vivem (...) p. 25.
 
           Em outro momento ela, a deusa Loucura, nos brinda com o seguinte:

           Em suma, sem mim nenhuma sociedade, nenhum relacionamento feliz poderia durar. O povo cansar-se-ia do príncipe; a serva, da patroa; o professor, do aluno; o amigo, do amigo; a mulher, do marido (...) se de vez em quando não se enganassem uns aos outros, ora adulando-se, ora sabiamente fingindo não ver, ora bajulando-se com o mel da loucura. (...) p. 35.
Nos trechos citados, percebemos o quanto o autor foi terno e abusado em suas palavras. Por isso, por causa de sua maneira peculiar e atrevida de expor seus argumentos, ele conseguiu prender meu inconsciente nas suas palavras. Elogio da Loucura é uma obra prima que propõe enriquecer nosso repertório de idéias “loucas”.

Concluo tendo a certeza que para um indivíduo (eu) se inscrever, influenciado por outro, num vestibular para Pedagogia, ter a sorte de conseguir ser aprovado no certame, querer concluir o curso e dizer que possui coragem de mergulhar no mar de torturas dos pedagogos formados pela UFRN, precisa ser, no mínimo, “louco” com L maiúsculo. “Louco” não, muito “Louco”. Pobre alma.


Por Rodrigo Barros

Referência: ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da Loucura. Tradução de Paulo Sergio Brandão. São Paulo: Martin Claret, 2008.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Another Brick in The Wall (Traduzido)



     A música Another Brick in The Wall (Um Outro Tijolo na Parede) da banda Pink Floyd é uma forte crítica a postura adotada por alguns professores em sala de aula e questiona o papel da escola na educação do indivíduo. Traz consigo um sentimento pretenciosamente provocante ao nos mostrar que tipo de educação escolar devemos combater e o quanto o ensino tradicional contribui para sermos apenas "um outro tijolo na sociedade."

Click e confira! 

Por que educar?

     Por que educar?
     Por que o ser humano precisa se educar?
     Nota-se que essa segunda forma, aparentemente inocente, de fazer a pergunta já sugere a direção em que a resposta deve ser buscada.
     Poderíamos ter perguntado: Por que o ser humano precisa ser educado? Essa forma de fazer a pergunta de certo modo já aponta para uma resposta que pressupõe que o ser humano é objeto de uma ação educativa de terceiros.
     A formulação anterior, "por que o ser humano precisa se educar", por outro lado, sugere que ele possa - e deva - se educar a si próprio... Essas questões são complicadas. Aqui vamos procurar concentrar nossa atenção nesta questão "por que educar?" sem definir com mais rigor se um ser humano é educado por outros seres humanos ou se ele se educa a si próprio - ou, possivelmente, se acontece uma mistura dessas duas coisas à medida que a sua educação evolui.
     A discussão do "por que" do educar vai, posteriormente, nos levar à discussão do "para que" do educar, porque essas duas questões são, como se verá, estreitamente ligadas. 
     Então: por que educar?
     Nós, os seres humanos, e todos os demais seres, animados ou inanimados, temos uma natureza própria. É difícil definir com precisão qual é a natureza humana (tendo havido até os que negam que ela exista...). Mas há certos elementos básicos dos quais é difícil fugir. O ser humano (envolvendo, naturalmente, o macho e a fêmea da espécie) é, sem dúvida, um animal. Como os outros animais, ele se alimenta, se defende de ambientes hostis (incluindo a própria natureza física, outros animais, e até mesmo outros seres humanos), cresce, se reproduz, e morre. 
    O ser humano, porém, é diferente dos outros animais, que já nascem com vários instintos que lhes facilitam viver e lhes permitem sobreviver - ou, pelo menos, que os ajudam a sobreviver. Boa parte dos outros animais é capaz de se locomover com certa autonomia quase que desde o momento do nascimento. Muitos aprendem a se alimentar e a se defender bastante cedo e se tornam adultos e autônomos (até mesmo para se reproduzir) com razoável rapidez (em relação à duração total de sua vida). O ser humano, não. O bebê humano é um incapaz perfeito. Se desassistido, morre em pouco tempo. Leva quase um ano para conseguir andar precariamente, mais de dois anos para se comunicar minimamente com seus semelhantes, de cinco a dez anos para se tornar relativamente autônomo na busca de alimento, de doze a quinze anos para conseguir se reproduzir. Além disso, não é extremamente veloz, não enxerga nem ouve tão bem quanto alguns outros animais, não tem muita força, não tem dentes caninos poderosos nem garras ameaçadoras que possam ajudá-lo no combate com outros animais.
     Os outros animais desenvolvem essas características de forma instintiva, basicamente natural, sem muito esforço de sua parte. Basta, em grande medida, deixar passar o tempo que eles se tornam aquilo que está geneticamente programado que eles devem ser. Mesmo que seja possível interferir nesse desenvolvimento, como, por exemplo, acontece quando domesticamos certos animais selvagens, isso se faz através da ação de uma outra espécie (no caso, os seres humanos), não através da ação dos membros da mesma espécie. Um casal de leões não consegue domesticar seus leõezinhos para que eles se tornem menos ferozes... nem um casal de esquilos consegue tornar os seus filhotes ferozes para que possam sobreviver melhor...
     O ser humano não tem nada disso. Ele nasce, como se disse, um perfeito incapaz. Mas ele tem um potencial muito maior do que o dos demais animais - tanto que, ao longo de sua evolução, veio a dominá-los, embora eles, em geral, sejam mais fortes, mais rápidos, mais ferozes do que ele...
     Isso se dá porque, felizmente (para nós), o ser humano tem uma ferramenta de sobrevivência que os demais animais não têm: sua razão (que o torna um animal especial). Assim, o homem não é um mero animal: é um animal racional, que possui, como ferramenta de sobrevivência, sua capacidade de perceber o mundo de uma forma sui generis, construindo conceitos e emitindo juízos, imaginando estados de coisas que não existem, criando valores e agindo para transformá-los em realidade.
     É essa natureza humana que torna possível que o ser humano seja capaz de olhar ao seu rodar, perceber a realidade que o cerca, mas não se contentar com ela. Mas a natureza do ser humano não o obriga a viver em descontentamento: ela lhe permite tomar a decisão de transformar a realidade que não o satisfaz. Para transformá-la, ele tem, primeiro, que imaginar uma realidade diferente, que ainda não existe, para, em seguida, se perguntar, "Por que não?", e, daí, começar a construí-la. Ao concluir que determinada realidade não o satisfaz, o ser humano está atribuindo valores - em alguns casos a objetos e estados concretos, que existem ao seu redor, em outros casos a objetos e estados de coisas (ainda) inexistentes, em outros casos a idéias, ideais e valores, pelos quais ele muitas vezes se dispõe a arriscar sua vida, isto é, seu bem mais precioso...
     É parte da natureza do ser humano a sua capacidade de sonhar, de se propor objetivos e metas, de se apaixonar por seus sonhos, de construir planos para transformar esses sonhos em realidade e para alcançar seus objetivos e metas, de agir na execução dos seus planos, de revisá-los e ajustá-los, quando necessário, de persistir na busca dos seus sonhos mesmo na face da maior adversidade, de pensar a longo prazo, de se preocupar com o que a posteridade vai pensar dele depois de ele morrer...
     Infelizmente essa ferramenta de sobrevivência do ser humano não funciona automaticamente como funciona o instinto de sobrevivência dos animais. Ela só funciona se o ser humano, por um ato de vontade, desejar que ela funcione, decidir que vai usá-la e se preocupar em aprimorá-la e aperfeiçoá-la. E isso o ser humano só consegue fazer a partir do momento em que alcança uma certa maturidade - algo que começa a acontecer quando ele chega na adolescência - e não termina nunca mais... O momento do "estalo" (como o estalo de Vieira) se dá quando o ser humano percebe que sua vida não é geneticamente programada para ele, como a dos animais, e que, para sobreviver, ele tem que construir a sua própria existência, em liberdade. A construção de sua própria vida é o maior projeto que um ser humano tem diante de si. Nisso somos iguais.
     Mas somos drasticamente diferentes um dos outros nos projetos de vida que elaboramos para nós mesmos. Por isso a liberdade é essencial: para nos permitir construir projetos de vida drasticamente distintos. É nesse momento que o ser humano percebe que, para construir a sua vida, ele tem que conhecer uma série de coisas: a realidade natural que o cerca, a sociedade em que vive, e, naturalmente, ele próprio. Nesse processo, ele vai descobrir que algumas coisas contribuem para que ele viva a vida que deseja viver (com que sonhou), outras conspiram contra ela, outras são indiferentes. E ele vai aprender a conscientemente atribuir valor a tudo que o ajuda a viver a vida que ele escolheu viver, combater o que conspira contra seus planos, e, provavelmente, ignorar o restante. Nesse processo o ser humano vai desenvolvendo sua moralidade. Ele vai aprendendo que o moralmente certo é aquilo que o ajuda a viver a sua vida como ser racional, livre, autônomo, responsável, solidário - e o imoral é aquilo que o impede de alcançar a plenitude daquilo que ele concebe como o ser humano. 
     A adolescência é, em geral, um período de conflitos porque, nos anos que a antecedem, outras pessoas, em geral os pais, sonham com o que seus filhos serão um dia, constroem projetos de vida para eles... E esses sonhos e projetos podem não corresponder exatamente aos sonhos e projetos que eles têm para si próprios... Às vezes as divergências não são tão grandes quanto ao objeto dos sonhos e projetos, mas, sim, quanto à forma, ou ao momento, de transformá-los em realidade...
     Por que educar?
     O ser humano se educa porque ele, embora tenha um potencial enorme ao nascer, pode, por uma série de fatores, não vir a desenvolver todo o seu potencial. Para que ocorra, o desenvolvimento do seu pleno potencial humano precisa ser visto como o principal projeto de sua vida - e ser visto assim não só pelo ser humano, individualmente, mas por aqueles que o cercam: a família, a comunidade, e, a partir de um determinado momento, a escola, e até mesmo a sociedade, como um todo, em que ele vive.
     A educação do ser humano começa quando ele nasce - e termina apenas quando ele morre. A educação é o processo mediante o qual o ser humano se capacita para viver - para viver seus sonhos, para viver seus projetos, para viver, enfim, a vida que escolheu para si próprio. 


Autor: Eduardo O C Chaves

Trabalho Infantil

     Trabalho infantil gera lucro pra quem explora, pobreza pra quem é explorado, faz parte da cultura econômica brasileira e está diretamente ligado ao trabalho escravo. A quem incomoda a luta contra o trabalho infantil? Incomoda aos que se incomodam com a luta contra o trabalho escravo. Incomoda aos que se incomodam com a luta contra o trabalho degradante. O combate ao trabalho infantil incomoda a quem lucra com o trabalho infantil, a quem lucra com o trabalho escravo e a quem lucra com o trabalho degradante.
     A quem incomoda a dignidade humana? A quem incomoda a beleza, a resistência, a sensualidade, a honestidade, a capacidade de organização do pobre? A quem incomoda a imagem bonita dos menos favorecidos? A quem incomoda a denúncia das injustiças da pobreza? Incomoda aos ricos e incomoda a uma parcela da classe média. Pra existir um rico quantos pobres tem que existir? Me perguntou um dia um carvoeiro, cansado de trabalhar, desde criança.
     Ataliba dos Santos estava cansado de não assinar a carteira, não estudar, cansado de nãos... E cansado de não ter respostas. Enquanto fotografava pensava a quem interessa o desequilíbrio social? No Brasil, o trabalho infantil não é conseqüência da pobreza, mas sim instrumento financiador dela. Empregar crianças significa lucro fácil. A exploração infantil gera o desemprego dos pais, trabalho escravo, crianças doentes, subnutridas, morando em precárias condições, prejudicadas na sua capacidade intelectual e no seu direito à educação, lesadas no seu direito ao lazer, ao carinho, à alegria; sem infância.
     “A gente custa muito pra entender que nasceu pra ser peixe de engordar gato que engorda rico e, em casa, a gente fabrica com todo amor os próximos peixinhos. Pra fugir disso, botei todo mundo pra estudar, mas sinto um aperto no peito porque sei que o ensino é muito ruim. Filho de pobre, mesmo depois de estudar um, dois, quatro anos, continua analfabeto. “As palavras de José dos Santos, carvoeiro na região do serrado, em minas Gerais expressam a luta para mudar uma realidade.
     José dos Santos está tentando romper uma corrente perversa que alimenta uma cadeia de trabalho degradante nas carvoarias brasileiras, assim como nos sisais, nas fazendas, nos canaviais, nas pedreiras e em vários setores do segmento rural que alimentam indústrias urbanas. O trabalhador que vive em trabalho degradante ou análogo a escravo, é, na sua imensa maioria, analfabeto, e foi explorado como trabalhador infantil. Aconteceu assim com seus pais e seus avós. O caminho normal é acontecer com os filhos e netos.
     Infelizmente, ainda não existe no Brasil uma política social que faça a associação entre trabalho infantil e trabalho degradante, análogo a escravo ou escravo, de forma a romper esse círculo. A realidade é que o trabalhador escravo de hoje foi o trabalhador infantil de ontem. A realidade do trabalho nas carvoarias brasileiras merece uma análise diferenciada. Muitas vezes o trabalho não é considerado trabalho escravo, outras vezes sim. Porém, sempre é um trabalho extremamente pesado e quase sempre, mesmo em casos de carteira assinada, um trabalho degradante. Acaba com a saúde do trabalhador. Muitas vezes, olhar uma carvoaria em pleno vapor é, do ponto de vista humanitário, algo inaceitável.


Fonte: não lembro!!!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Manifesto Nacional "Por que aplicar 10% do PIB na educação pública?



Carta de Lançamento da Campanha Nacional

Por que aplicar já 10% do PIB nacional

na Educação Pública?


            A educação é um direito fundamental de todas as pessoas. Possibilita maior protagonismo no campo da cultura, da arte, da ciência e da tecnologia, fomenta a imaginação criadora e, por isso, amplia a consciência social comprometida com as transformações sociais em prol de uma sociedade justa e igualitária. Por isso, a luta dos trabalhadores na constituinte buscou assegurá-la como “direito de todos e dever do Estado”.

            No entanto, o Estado brasileiro, por expressar os interesses dos ‘donos do poder’, não cumpre sua obrigação Constitucional. O Brasil ostenta nesse início de século XXI, se comparado com outros países, incluindo vizinhos de América Latina, uma situação educacional inaceitável: mais de 14 milhões de analfabetos totais e 29,5 milhões de analfabetos funcionais (PNAD/2009/IBGE) – cerca de um quarto da população – alijada de escolarização mínima. Esses analfabetos são basicamente provenientes de famílias de trabalhadores do campo e da cidade, notadamente negros e demais segmentos hiperexplorados da sociedade. As escolas públicas – da educação básica e superior – estão sucateadas, os trabalhadores da educação sofrem inaceitável arrocho salarial e a assistência estudantil é localizada e pífia.
 
            Há mais de dez anos os setores organizados ligados à educação formularam o Plano Nacional de Educação – Proposta da Sociedade Brasileira (II Congresso Nacional de Educação, II Coned, Belo Horizonte/MG, 1997). Neste Plano, professores, entidades acadêmicas, sindicatos, movimentos sociais, estudantes elaboraram um cuidadoso diagnóstico da situação da educação brasileira, indicando metas concretas para a real universalização do direito de todos à educação, mas, para isso, seria necessário um mínimo de investimento público da ordem de 10% do PIB nacional. Naquele momento o Congresso Nacional aprovou 7% e, mesmo assim, este percentual foi vetado pelo governo de então, veto mantido pelo governo Lula da Silva. Hoje o Brasil aplica menos de 5% do PIB nacional em Educação. Desde então já se passaram 14 anos e a proposta de Plano Nacional de Educação em debate no Congresso Nacional define a meta de atingir 7% do PIB na Educação em … 2020!!!
 
            O argumento do Ministro da Educação, em recente audiência na Câmara dos Deputados, foi o de que não há recursos para avançar mais do que isso. Essa resposta não pode ser aceita. Investir desde já 10% do PIB na educação implicaria em um aumento dos gastos do governo na área em torno de 140 bilhões de reais. O Tribunal de Contas da União acaba de informar que só no ano de 2010 o governo repassou aos grupos empresariais 144 bilhões de reais na forma de isenções e incentivos fiscais. Mais de 40 bilhões estão prometidos para as obras da Copa e Olimpíadas. O Orçamento da União de 2011 prevê 950 bilhões de reais para pagamento de juros e amortização das dívidas externa e interna (apenas entre 1º de janeiro e 17 de junho deste ano já foram gastos pelo governo 364 bilhões de reais para este fim). O problema não é falta de verbas públicas. É preciso rever as prioridades dos gastos estatais em prol dos direitos sociais universais.
 
            Por esta razão estamos propondo a todas as organizações dos trabalhadores, a todos os setores sociais organizados, a todos(as) os(as) interessados(as) em fazer avançar a educação no Brasil, a que somemos força na realização de uma ampla campanha nacional em defesa da aplicação imediata de 10% do PIB nacional na educação pública. Assim poderíamos levar este debate a cada local de trabalho, a cada escola, a cada cidade e comunidade deste país, debater o tema com a população. Nossa proposta é, inclusive, promover um plebiscito popular (poderia ser em novembro deste ano), para que a população possa se posicionar. E dessa forma aumentar a pressão sobre as autoridades a quem cabe decidir sobre esta questão.

            Convidamos as entidades e os setores interessados que discutam e definam posição sobre esta proposta. A idéia é que façamos uma reunião de entidades em Brasília (dia 21 de julho, na sede do Andes/SN). A agenda da reunião está aberta à participação de todos para que possamos construir juntos um grande movimento em prol da aplicação de 10% do PIB na educação pública, consensuando os eixos e a metodologia de construção da Campanha.
 


Junho de 2011.



ASSINAM ESSE MANIFESTO: ABEPSS, ANDES-SN, ANEL, CFESS, COLETIVO VAMOS À LUTA, CSP-CONLUTAS, CSP-CONLUTAS/DF, CSP-CONLUTAS/SP, DCE-UFRJ, DCE-UnB, DCE-UFF, DCE UFRGS, ENECOS, ENESSO, EXNEL, FENED, MST, MTL, MTST/DF, MUST, MOV. MULHERES EM LUTA, OPOSIÇÃO ALTERNATIVA, CSP-CONLUTAS/RN, PRODAMOINHO, SEPE/RJ, SINASEFE, SINDSPREV, SINDREDE/BH, UNIDOS PRÁ LUTAR.




Fonte: http://dezporcentoja.blogspot.com/

sábado, 10 de setembro de 2011

Livro questiona a palmada como forma de educação

         A revista CRESCER entrevistou a psicóloga Luciana Maria Caetano, autora do recém-lançado É possível educar sem palmadas?, que traz bons argumentos contra a violência dentro de casa.

ThinkStock

          Se você apanhou dos seus pais e, hoje, se considera uma pessoa educada, provavelmente deve achar que isso contribuiu para o seu sucesso, correto? Esse é apenas uma das questões levantadas em É possível educar sem palmadas?, da doutora em psicologia Luciana Maria Caetano. Mais do que dizer que ela não funciona, a especialista mostra quais caminhos os pais podem seguir para que consigam impor limites sem agressividade. O livro não traz fórmulas prontas, por isso, não pense que somente ele vai resolver os problemas de educação na sua casa. Deixe os seus pré-conceitos de lado e entre nessa reflexão com a gente.

CRESCER: Por que dar palmada não funciona?
Luciana Maria Caetano: Porque ela é falível. Nada garante que uma criança que apanha vai deixar de ter um comportamento inadequado. Pior: algumas crianças se acostumam com a palmada e não ligam mais quando os pais a ameaçam – o que significa que eles perderam a autoridade. Além, claro, do fato de que agressividade não faz bem. Vejo adultos que se indignam quando sabem de casos de violência, então por que alguns ainda acham normal bater numa criança? Não tenho dúvidas de que quando um pai bate numa criança ele mostra para ela que a violência é o meio de resolver os problemas, de que os mais fortes têm direito a bater nos mais fracos.

CRESCER: Quais as conseqüências da palmada para as crianças?
LMC: Primeiro, um argumento que ouço muito, é de pais que são a favor da palmada, de tapas, mas dizem que são contra a pancada. Mas como mensurar isso? Porque quando se está com raiva, é difícil medir a força. E a criança é frágil também. Além disso, a palmada gera na criança um sentimento de crédito: “fiz uma arte e, apanhando, paguei por ela. Agora estou livre para cometer novas”. É assim que os pequenos pensam. A palmada não é acompanhada de reflexão, do entendimento de que se faz a coisa errado. Por sua vez, os pais acabam distanciando-se dos filhos quando batem neles.

CRESCER: Se um adulto recebeu esse tipo de castigo dos pais e acha que isso foi responsável pela sua boa educação, como convencê-lo do contrário?
LMC: Essa é uma das perguntas mais difíceis de ser respondida. Hoje em dia vemos que, por conta do autoritarismo do passado, muitos pais foram para o caminho inverso, de não dar limite nenhum ao filho. E isso também é errado. Acho que os pais que creditam à palmada o fato de serem pessoas de bem na verdade o são por causa das regras claras que os seus pais impunham. Não encontrei nenhum adulto que tenha dito “ah, aquele dia foi muito especial para mim porque apanhei”. O que faz uma pessoa ser correta é a noção de certo ou errado que ela tem. Os pais do passado usavam a palmada para passar princípios, mas hoje sabemos que existem outras formas para isso.

CRESCER: E como os pais podem impor regras e limites sem usar a palmada?
LMC: Os pais precisam ser exemplo de justiça, respeito, dignidade, que são princípios universais. Não adianta falar para o seu filho não mentir se você próprio mente. Ou dizer para ele não ser agressivo se você explode em brigas no trânsito. Tem que explicar: "você escova os dentes porque isso é bom para a sua saúde". Frases como “se você não escovar eu vou te bater” ou “se você não escovar vou ficar triste” não são indicadas. Além disso, é essencial ser paciente. Educar uma criança exige paciência. Muitos pais usam a palmada porque esse é o caminho mais fácil.

CRESCER: O castigo, sem palmada, é válido?

LMC: Sim. Mas o castigo tem que estar diretamente relacionado com a “arte”. Sujou? Tem que limpar. Quebrou? No próximo final de semana não haverá passeio, pois o dinheiro será usado pra consertar. Nesse sentido, não dá para negociar com a criança e, quanto mais nova ela for, mais regras inegociáveis. Isso muda, claro, na adolescência. Os pais precisam voltar a ter firmeza. A historia do cantinho para pensar, para mim, não funciona. Especialmente para as crianças pequenas, até 6 anos. Elas ainda não têm raciocínio formal completamente desenvolvido e podem associar a ideia de que pensar é algo ruim. Alguns pais acham que a palmada é um jeito de castigar que vai resolver para sempre os problemas, mas não é bem isso, pois é a repetição que faz com que uma regra seja interiorizada e se torne um hábito.

CRESCER: O que significa, para a sociedade, ainda ter uma geração inteira de crianças que apanham dos pais?
LMC: Felizmente, eu não acredito em determinismo. As pesquisas são muito claras em mostrar que crianças que foram vítimas de agressão também se tornam mais agressivas, têm tendência a se tornar depressivas ou a se envolver com drogas. Mas é preciso lembrar que somos sujeitos ativos. Se mesmo com um ambiente familiar desestruturado a criança tiver oportunidade de conviver com modelos adultos de afetividade, na escola, por exemplo, acredito que ela terá chances de se tornar um adulto equilibrado e feliz.




Extraído da Revistacrescer

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A lógica dominante dominando a educação

         Desde que o mundo é mundo lembramos, relatamos e vivenciamos mudanças em nossa sociedade. Algumas dessas mudanças ocorrem seguindo a própria ordem da natureza, outras, no entanto, são realizadas pelo homem, e de certo modo acabam também sendo naturais, ou melhor, acabam naturalizando-se.
Parece cada vez mais natural viver em sua sociedade feito um “bicho” cercado pelas desigualdades sociais, pela competitividade, pelo individualismo, e aceitar a concentração de capital e de poder nas mãos de uma minoria. Parece ser cada vez mais natural a condição de ser pobre, de ser desempregado, de não possuir moradia, de não ter como se locomover, não ter o que comer, de não possuir estudo, ou mesmo de estudar em escolas sucateadas e “assistencialistas”. É cada vez mais natural viver a lógica capitalista.
Desse modo, não seria surpresa constatar que a cada dia mais e mais pessoas estão tendo acesso às escolas, conforme previsto em lei, mas ainda assim não estão tendo o acesso ao saber. Saber esse que vai muito mais além da matrícula escolar, da escolarização, da codificação e decodificação, muito mais além da simples e mecânica memorização, de fatos, dados, acontecimentos datados. Um saber real, que não é esse saber mentiroso e mascarado ofertado no jogo do dominador.
O saber real ao qual nos referimos nesse texto, exige cada vez mais que os indivíduos possuam conhecimentos e aptidões, que lhe permitam interpretar e fazer análises sob outra ótica, que foge a tradicional ótica positivista. Trata-se de um saber que possibilita ao indivíduo o desejo de investigar e descobrir tudo que está por traz de tudo. Tudo aquilo que é dado como certo, como inquestionável. Infelizmente esse saber real ainda não faz parte, ou se faz numa pequena proporção, do cotidiano das nossas salas de aula, da escolarização e da educação de nossas crianças e jovens.
Historicamente falando, na educação do nosso país muito já se lutou e ainda se luta por esse saber, pela implementação de um currículo que atenda não à economia vigente, nem à classe dominante, mas um currículo libertador, emancipador. Luta-se ainda nos dias de hoje para que nossas crianças tenham uma educação de qualidade e que não vendam seus pensamentos, sua consciência por um prato de comida ou uma bolsa auxílio qualquer. Nessas lutas por mudanças benéficas para a educação, para um currículo de qualidade livre de uma ideologia opressora, percebe-se o poder que a escola e, mais especificamente, as disciplinas possuem ao carregarem consigo conteúdos, concepções, métodos e professores que podem conduzir os estudantes para um caminho dialógico, reflexivo, critico e consciente, ou para uma vida de estudos inteiramente alienada e oprimida.
Seguindo essa mesma ótica encontram-se os livros didáticos. Seja na escolha com conteúdos que serão trabalhados em determinadas séries, seja em textos curtos, introdutórios ou mesmo na forma como se inserem suas atividades os livros também atuam como um meio de propagar uma ideologia. Por meio de informações equivocadas ou mesmo pela omissão de determinadas informações os livros também podem ser instrumentos de alienação.
Observa-se assim como a educação, ou melhor, a escola e a prática do professor podem conduzir a vida de um individuo, bem como a importância exercida na vida de todos que passam por ela, podendo atuar como um aparelho ideológico do Estado e nutrir a manutenção desse sistema ou atuar como um meio emancipador e dialógico, formando de fato cidadãos críticos e participativos. Só é extremamente lamentável que nos dias de hoje ainda existam escolas, livros e professores que educam para a alienação. Que não buscam instigar em seus alunos um pensamento reflexivo frente ao mundo.
Pensemos nisso e analisemos nossas práticas!
Você educa para a manutenção ou para a emancipação?

sábado, 20 de agosto de 2011

O que é educação?

            Geralmente, quando falamos ou ouvimos falar sobre educação temos a tendência de enquadrá-la em um período, normalmente aos anos que uma determinada pessoa dedicou aos estudos. Pensando assim, fica claro que pretendemos sempre relacionar educação com estudos. Contudo, seria esta uma interpretação apropriada? Não estaria ocorrendo nesse pensamento uma irresponsável tentativa de transformar todo um processo natural e gradual em alguns anos dentro da sala de aula? E quem não teve, pelos mais diversos motivos, oportunidade de estudar, não foi educado? E as primeiras tribos, as primeiras civilizações indígenas, não tiveram sua educação? E quando o pai índio chamava seu filho para observá-lo a fazer os arcos e flechas para caça ou, por outro lado, quando a mãe índia ensinava sua filha a conhecer as plantas boas para produzir cestos e a argila que serve para fazer potes, não era uma forma de educar? Digamos que os estudos acadêmicos fazem sim parte do processo de educação do ser humano, mas, no entanto, é equivocado alegar e restringir educação ao período escolar.
             Muito mais do que um período, que uma etapa, que uma fase, que uma tarefa, a educação reflete os ideais sociais do grupo que a cria. Ela reproduz entre todos os que ensinam e aprendem o saber das palavras da tribo, as normas de conduta da comunidade, as regras do trabalho, os valores nativos, os segredos da arte, da guerra, da religião ou da tecnologia, perpetuando-se e reinventando-se de geração em geração. Foi dessa forma que Esparta desenvolveu uma educação orientada para a formação militar; que Atenas iniciou seu ideal democrático; que o patriarca romano inseriu seu filho na vida civil. Foi usando a educação como um recurso a mais de sua dominância que a igreja impregnou a doutrina cristã na gênese do submetido brasileiro.
            Podemos observar a educação em diversas situações. Por exemplo, quando um pai demonstra a intenção de modelar determinado tipo de comportamento em seu filho, ensinando-o a respeitar as pessoas; ou quando um pai teoriza sobre o respeito ao próximo e estaciona o carro em vagas para pessoas com deficiência, ensinando aos filhos, acidentalmente, valores negativos, como o individualismo, a exploração; a notamos quando a publicidade, diária, covarde e emotivamente, aproveita a ausência da família para alimentar desejos e anseios consumistas em nossas crianças, nutrindo-as diariamente com verdadeiros mingaus alienantes. Ela é primeiramente realizada no privilegiado espaço familiar, se estende no convívio com os amigos, nas atividades de trabalho e lazer, nos veículos de informação e entretenimento, como rádio, TV, jornais, internet. Em boa parte desse processo nem percebemos que estamos educando, ou que estamos sendo educados.
              Talvez a interpretação aqui apresentada esteja distante daquilo que escutamos no dia-a-dia, entretanto, é necessário deixarmos de lado a intenção de querer simplificar a concepção de educação na tentativa de torná-la mais inteligível à nossa compreensão. É agindo justamente dessa maneira que acabamos contribuindo para que a mesma vá perdendo seu brilho e seu real valor. Não podemos deixar que um fenômeno que engloba todos os processos de ensinar e aprender, de ajuste e adaptação, se encaixe dentro de uma concepção simplista que formulamos.
             Por fim, educação é a construção de um saber que ultrapassa os muros da escola e se torna uma construção permanente na existência do ser humano. Aliás, notemos que, de fato, ninguém foge ou se abriga da educação. De uma forma ou de outra, num lugar ou em outro, na escola ou não, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela.

Dedicatória Póstuma



            O Bar do Pedagogo dedica este blog àquela criança invisível, que aparentava pouco mais de 5 anos. Certa manhã ela aproveitou os valiosos 30 segundos que a luz vermelha do semáforo lhe deu para bater com suas mãos magras, sujas e sofridas na janela daquele carro e mendigar um pedaço de esperança. Mas seu empenho foi em vão. O condutor a ignorou. Ela tinha fome e frio. Ela precisava de consolo e amparo. Viva, porém morta.  Que descanse em paz nas nossas lembranças.

            Você já viu alguma criança invisível? Também consegue enxergá-las?

Em que devo acreditar?


São milhares de seres humanos

  Que morrem sem ser culpados!

  São muitas partículas de dor

  Corações despedaçados

  Que Deus é esse

  Por nós tão idolatrado

  Que a Igreja nos fez crer

  Qu’ele estava em todo o lado?!...

  Em todo o lado

  está a guerra, a morte

  E a fé que aínda nos resta

  A servir como suporte!...

Eu sei!

   Vais culpar a crueldade

Do Homem que tu criaste!

  Criaste-o à tua imagem

Não foi isso que ensinaste!...

Em que devo acreditar?!

  Nesse Deus que não quer ver

Ou no sangue derramado

  E tanto povo a sofrer?!...



Texto postado originalmente no Jardim das Urtigas.

62 obras sobre os principais pensadores da educação para download

            O Mi­nis­té­rio da Edu­ca­ção, em par­ce­ria com a Unes­co e a Fun­da­ção Jo­a­quim Na­bu­co, dis­po­ni­bi­li­zou pa­ra downlo­ad a Co­le­ção Edu­ca­do­res, uma sé­rie com 62 li­vros so­bre per­so­na­li­da­des da edu­ca­ção. A co­le­ção traz en­sai­os bi­o­grá­fi­cos so­bre 30 pen­sa­do­res bra­si­lei­ros, 30 es­tran­gei­ros, e dois ma­ni­fes­tos: “Pi­o­nei­ros da Edu­ca­ção No­va”, de 1932, e “Edu­ca­do­res”, de 1959. A es­co­lha dos no­mes pa­ra com­por a co­le­ção foi fei­ta por re­pre­sen­tan­tes de ins­ti­tu­i­ções edu­ca­cio­nais, uni­ver­si­da­des e Unes­co. O cri­té­rio pa­ra a es­co­lha foi re­co­nhe­ci­men­to his­tó­ri­co e o al­can­ce de su­as re­fle­xões e con­tri­bui­ções pa­ra o avan­ço da edu­ca­ção no mun­do. No Bra­sil, o tra­ba­lho de pes­qui­sa foi fei­to por pro­fis­si­o­nais do Ins­ti­tu­to Pau­lo Frei­re. No pla­no in­ter­na­ci­o­nal, foi tra­du­zi­da a co­le­ção Pen­seurs de l’édu­ca­ti­on, or­ga­ni­za­da pe­lo In­ter­na­ti­o­nal Bu­re­au of Edu­ca­ti­on (IBE) da Unes­co, em Ge­ne­bra, que reú­ne al­guns dos mai­o­res pen­sa­do­res da edu­ca­ção de to­dos os tem­pos e cul­tu­ras.
            In­te­gram a co­le­ção os se­guin­tes edu­ca­do­res/pen­sa­do­res: Al­ceu Amo­ro­so Li­ma, Al­fred Bi­net, Al­mei­da Jú­ni­or, An­drés Bel­lo, An­ton Maka­renko, An­to­nio Gram­sci, Aní­sio Tei­xei­ra, Apa­re­ci­da Joly Gou­veia, Ar­man­da Ál­va­ro Al­ber­to, Aze­re­do Cou­ti­nho, Ber­tha Lutz, Bog­dan Su­cho­dolski, Carl Ro­gers, Ce­cí­lia Mei­re­les, Cel­so Su­cow da Fon­se­ca, Cé­les­tin Frei­net, Darcy Ri­bei­ro, Do­min­go Sar­mi­en­to, Dur­me­val Tri­guei­ro, Ed­gard Ro­quet­te-Pin­to, Fer­nan­do de Aze­ve­do, Flo­res­tan Fer­nan­des, Fre­de­ric Skin­ner, Fri­e­drich Frö­bel, Fri­e­drich He­gel, Fro­ta Pes­soa, Ge­org Kers­chen­stei­ner, Gil­ber­to Freyre, Gus­ta­vo Ca­pa­ne­ma, Hei­tor Vil­la-Lo­bos, He­le­na An­ti­poff, Hen­ri Wal­lon, Hum­ber­to Mau­ro, Ivan Il­lich, Jan Amos Co­mê­nio, Je­an Pi­a­get, Je­an-Jac­ques Rous­se­au, Je­an-Ovi­de De­croly, Jo­hann Her­bart, Jo­hann Pes­ta­loz­zi, John Dewey, Jo­sé Mar­tí, Jo­sé Má­rio Pi­res Aza­nha, Jo­sé Pe­dro Va­re­la, Jú­lio de Mes­qui­ta Fi­lho, Liev Se­mio­no­vich Vygotsky, Lou­ren­ço Fi­lho, Ma­no­el Bom­fim, Ma­nu­el da Nó­bre­ga, Ma­ria Mon­tes­so­ri, Ní­sia Flo­res­ta, Or­te­ga y Gas­set, Pas­cho­al Lem­me, Pau­lo Frei­re, Ro­ger Cou­si­net, Rui Bar­bo­sa, Sam­paio Dó­ria, Sig­mund Freud,Val­nir Cha­gas, Édou­ard Cla­pa­rè­de e Émi­le Durkheim.